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terça-feira, 10 de julho de 2012

CONFLITO DE GERAÇÕES



A
s queixas são muitas: a família não as ouve, os irmãos partem para a briga, elas se sentem mal-amadas e os limites colocados pelos pais se confundem a toda a hora. Este é o resultado de uma pesquisa feita pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo com adolescentes atendidas no Ambulatório de Ginecologia da Adolescência do Hospital das Clínicas.

O estudo ouviu 92 jovens, com idade média de 16 anos, que receberam atendimento psicológico entre janeiro e julho do ano passado. Desse total, 83% apresentaram algum tipo de queixa. O medo, relativo a diversos fatores, como engravidar, morrer, contrair Aids e até medo do futuro, foi citado por 11% delas. Outras estavam incomodadas com conflitos amorosos (9%), afirmaram ser nervosas (8%), preocupadas (6%), ansiosas (4%) e apresentaram quadro de desânimo (4%). Queixas relativas à insatisfação com o próprio corpo, indecisão, notas escolares baixas e falta de alguém para conversar também foram apontadas pelas adolescentes.

No entanto, o problema de relacionamento com a família foi apontado por 22% das entrevistadas. "Queríamos saber quais as situações que mais angustiavam as adolescentes. Chegamos a pensar que eram relacionamentos com amigos e namorados, mas, para nossa surpresa, a maior parte dos conflitos era com os familiares" - afirmou dra. Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do Programa de Saúde do Adolescente. "Chegam a falar que não se sentem amadas e têm vontade de sair de casa. Algumas falam até em morrer. Tudo isso é uma questão muito forte" - acrescenta. Para a médica, essa situação"mostra claramente a dificuldade que existe no diálogo entre pais e filhos".

Outra percepção que o estudo possibilitou foi a incapacidade de os pais manterem os limites que estabelecem, fazendo as jovens se sentirem ainda mais confusas, o que acontece também com os meninos da mesma faixa etária. "Há uma dupla ordem por parte dos pais. Ao mesmo tempo em que proíbem alguma coisa, pouco tempo depois voltam atrás. Os pais se deparam com muitos desafios e muitas vezes não sabem como se colocar diante dos filhos" - avalia dra. Albertina.

Para ela, essa realidade é diferente daquela considerada normal na adolescência, em que a visão infantil que se tem dos pais enquanto criança vai sendo substituída por uma visão adulta. "Pelo que apuramos na pesquisa, trata-se mesmo de um conflito familiar. As adolescentes entendem que realmente estão sendo rejeitadas e se sentem muito criticadas pelos pais" - ressalta.

Diálogo - Segundo a médica, esse desencontro familiar não significa um total desinteresse dos pais pela vida dos filhos adolescentes. "Os pais querem cada vez mais dialogar com os filhos, mas faltam ferramentas para este diálogo. Ou melhor, as ferramentas usadas são inadequadas" - garante dra. Albertina Duarte.

Com isso, os jovens entendem que não estão sendo amados e respeitados pelos familiares, principalmente pelos pais. "Conflitos interpessoais e intra-psíquicos envolvendo adolescentes são naturais, mas é preciso dar espaço para que elas falem sobre esses problemas e expressem seus pontos de vista. Trabalhar o lado emocional e reduzir a vulnerabilidade dos jovens é fundamental para evitar comportamentos de risco, como o uso de drogas" - salienta a médica.

Há 20 anos atuando na Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, dra. Albertina lembra que sempre realizou pesquisas para aperfeiçoar o atendimento ao adolescente, e as questões psicológicas sempre foram consideradas. "Hoje aprofundamos as questões familiares" - explica. Em várias unidades de Saúde de São Paulo, há serviços voltados para o público adolescente, inclusive com a formação de grupos, com os pais."Não há dúvida de que é fundamental ouvir e compreender o filho na adolescência" - lembra.

Para a médica, assim como uma criança nasce e precisa de cuidados específicos, o adolescente também requer uma atenção especial. "O corpo de um adolescente muda, assim como sua relação com o mundo e com seus pais. E os adultos precisam facilitar essa transição" - argumenta a médica. "Eles precisam ter seus próprios amigos, mas o grande grupo é a família, e eles necessitam ser acolhidos por ela. Precisam ser tratados com seriedade, mas também com serenidade" - finaliza.

Veja, abaixo, algumas dicas de como ajudar seu filho a viver uma adolescência saudável:

- Ouça o que ele tem a dizer. É fundamental ouvi-lo e compreendê-lo.
- Diga: "Eu te amo", em palavras e em gestos. A linguagem do afeto acontece também com o olhar.
- Mostre que o seu amor é incondicional, porém esclareça que não aceita as atitudes erradas." Argumente que as regras colocadas também são prova de seu afeto.
- Explique que, apesar de jovem, ele também é vulnerável aos perigos. E que muitas decisões que ele considera como proibições são para protegê-lo.
- Elogie-o sempre que puder.
- Seja firme ao colocar os limites necessários.
- Valorize a história da família, principalmente em relação ao trabalho e à ética.
- Não faça críticas em público.
- Nunca o compare com os irmãos ou outros jovens.
- Sempre que possível, leve-o nas festas e busque-o.
- Não se esqueça de promover passeios familiares com a presença dele.

Reportagem da Revista Família Cristã.

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