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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

CORREIO MFC BRASIL Nº 303



   
A pessoa humana se exprime e se comunica através de sinais, símbolos e ritos. O sinal mais habitualmente usado é a palavra, falada ou escrita. Mas nem sempre as palavras bastam para traduzir pensamentos, ideias, sentimentos e emoções. Gestos simbólicos podem significar muito mais que longos discursos.
   
OS SACRAMENTOS HUMANOS
*HELIO AMORIM – MFC/RJ
   
Um aperto de mão é mais que um simples movimento de músculos e nervos mas sinal ou símbolo de respeito, cordialidade, compromisso mútuo. O abraço ou o beijo, a carícia ou o encontro sexual, tampouco são puras manifestações físicas ou biológicas, mas expressões de sentimentos, afeto e amor. O aplauso ou a vaia são mais que sons e ruídos produzidos por mãos e vozes humanas. São gestos simbólicos que exprimem sentimentos de satisfação ou repúdio.

Também objetos, coisas simples, podem ganhar um forte significado simbólico e tornar-se sinais de sentimentos profundos. Muitos desses simbolismos podem mesmo socializar-se e aderir a gestos e objetos, dando-lhes significados que ultrapassam a sua natureza e materialidade.

A
o longo do tempo, vão sendo assim entendidos por todos e de certa forma se institucionalizam. Esses simbolismos, então, se incorporam à cultura de uma comunidade ou um povo.

Assim nos vemos cercados por esses sinais e ricos simbolismos, às vezes pessoais, outros culturais. A flor ressecada que alguém guarda há muitos anos entre as folhas de um livro, é muito mais que uma flor, simples órgão reprodutor de uma planta. É um sinal ou símbolo que, algum dia, alguém usou para exprimir o seu amor. Encontrar esse objeto simbólico ao folhear o livro, rememora o gesto e reacende sentimentos, provoca um calor interior que realimenta antigos sentimentos. A oferta de flores como sinal de afeto é mesmo um daqueles muitos simbolismos já incorporados à cultura de tantos povos.

Uma vela grossa e já deformada que vem sendo usada em todas as celebrações mais marcantes da família (aniversários e batizados, nascimentos e mortes), é preservada com cuidado e carinho, torna-se uma relíquia familiar, porque rememora cada um desses episódios, festivos ou sofridos, que nenhuma outra vela seria capaz de recordar.

Uma camisa rasgada e manchada de sangue, guardada zelosamente e exposta pelos companheiros do lavrador assassinado na luta por um pedaço de chão, deixa de ser uma simples camisa para se tornar símbolo dessa luta por justiça social. Cada vez que é vista (sinal sensível), recorda o sentido daquele triste episódio e realimenta nos companheiros (sinal eficaz) as razões, o ardor e a coragem para continuar a luta.

Se continuarmos a olhar o que nos cerca, vamos encontrar em gavetas e armários, muitos outros objetos carregados de significados que ultrapassam a sua natureza. A velha mesa herdada dos avós que se foram, na qual comemos os mingaus da nossa infância. O relógio que um pai falecido usou durante toda uma vida, e que nos faz recordar, com carinho, o seu gesto lento de tirá-lo do bolso para consultar as horas e nos mandar para a cama dormir.

A lista, para muitos, será interminável. Esses objetos, provavelmente não terão valor mercantil e teriam sido descartados se não tivessem adquirido um significado simbólico que os tornam inegociáveis.

Porque aqueles gestos e estes objetos já não são apenas gestos e objetos. São sinais sensíveis e eficazes, ou sacramentos humanos. Ganharam uma força que em si mesmos não possuíam, o poder de rememorar, alimentar e reavivar os sentimentos e emoções que exprimem e significam.

Ao repetirmos aqueles gestos, ao ver e tocar estes objetos simples, ressurgem, com renovado ardor, a saudade, a solidariedade, o afeto, o carinho, a indignação frente à injustiça, e tantos outros sentimentos e emoções. Então somos impelidos a vivê-los mais intensamente, traduzindo-os em práticas concretas.

Assim entendido, podemos compreender melhor os sacramentos divinos.

*Descomplicando a fé” – Editora Paulus (Continua)

CRACK
   
O
s governos federal e locais e a sociedade estão perdendo a batalha do crack. Os efeitos dessa peste que se alastra são desastrosos. A droga é barata, de fácil obtenção por traficantes e venda indiscriminada para adultos e crianças que se drogam em cracolândias em pontos visíveis das cidades.

O quadro é assustador para a população que contempla esses infernos sem poder intervir. O retorno dos viciados à vida normal é quase impossível e a morte prematura é uma certeza cruel.

Autoridades de governos e polícias locais não sabem ainda o que fazer. Predominando menores, meninos e meninas, não é admitida a detenção dos usuários. O transporte e o tráfico da droga são facilitados pela natureza das pedras desse veneno. A disseminação do uso e a dependência imediata gerada nas primeiras experiências torna o problema ainda mais desafiador.

Surgem agora anúncios de repressão policial com detenção de usuários, como tentativa desesperada de salvação das vítimas. Logo se levantam vozes de protesto contra a prisão dos infelizes drogados, sem consideração de idade. Organizações se equivocam em considerar essa repressão salvadora como atentado à liberdade intocável dos usuários condenados a morrer antes do tempo.

Preferimos qualificar essas medidas como tentativa desesperada de libertação dessa escravidão fatal de tantas vítimas. Pelo menos vale como experiência para avaliação posterior de sua eficácia.

DESLIGUE A TV
   
N
este momento, mais uma vez, sua excelência a opinião pública está mobilizada para decidir a cada semana quem vai para o paredão do Big Brother Brasil – a monstruosidade mais idiota, deseducativa e lucrativa jamais produzida pela TV. Produto importado, explorado em muitos outros países que também contam com espectadores ingênuos com vocação incubada de voyeurs.

São pessoas hipnotizadas pela propaganda, olhando pelo buraco da fechadura televisiva os comportamentos artificiais e ensaiados de alguns personagens inexpressivos, disputando ganhar o seu primeiro milhão.

Conselho para preservar a sua inteligência: desligue, mude de canal. A TV tem programas bons. Procure e escolha.
  
FRASES DE VLADIMIR MAIAKÓVSKI
  
Amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito, desconfio que há falta de amor.
A arte não é um espelho para refletir o mundo, mas um martelo para forjá-lo.
Você não pode deixar ninguém invadir o seu jardim para não correr o risco de ter a casa arrombada.
Poderiam ordenar-me: "Mata-te na guerra". Teu nome será o último coágulo de sangue em meus lábios rasgados pelas balas.


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