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sexta-feira, 29 de março de 2013

Semana Santa



João Batista Libânio
Do desejo ardente de venerar a paixão de Cristo, surge esse maravilhoso conjunto litúrgico das celebrações da Semana Santa, especialmente do tríduo pascal. Os cristãos não tiveram medo de tomar como centro de sua memória o lado mais escandaloso da vida de Jesus: sua paixão e morte na cruz. Poderiam ter sido tentados a esquecer essa passagem da vida de Jesus e ficar com a glória da Ressurreição. Seria tão natural! Quando chegamos a uma vitória, esquecemos facilmente o percurso doloroso que nos conduziu a ela. Temos uma forte inclinação de sepultar longe de nós a dor, o sofrimento, os momentos de humilhação.

No final da 2a. guerra mundial, a Alemanha estava destruída e humilhada. Uma década e pouco depois, já se erguia altiva. A velha geração, que sofrera a guerra, queixa-se de que a juventude não quer nem saber falar de guerra, só pensa no bem-estar que está gozando. Assim poderiam ter feito os primeiros cristãos. Deixar para trás o Jesus humilhado e ater-se ao Cristo glorioso.

Mas o Espírito Santo, que assiste a Igreja, não a deixou desviar-se pelo lado fácil da glória, sem antes deter-se no escândalo da cruz. Talvez depois tenhamos caído no exagero oposto dolorista. E hoje percebemos como traço profundo da piedade mineira esse culto à paixão. Às vezes, até exagerado, esquecendo a Páscoa.

A beleza e a profundidade da Liturgia consiste em restabelecer o verdadeiro equilíbrio. Há o longo tempo da Quaresma para a reflexão, para a oração, para o jejum, para a prática da caridade fraterna. Tempo de conversão. Depois iniciamos na 5a. feira santa o tríduo pascal com o memorial da Ceia do Senhor à tarde. Ele culmina com a celebração da Ressurreição na vigília pascal. A reforma litúrgica iniciada por Pio XII (1951) foi aperfeiçoada pelo Concílio Vaticano II.

A celebração da 5a. feira santa tem seus inícios no século VII com três missas. Na parte da manhã, havia a missa da reconciliação dos penitentes. Ao meio dia, a missa da consagração dos óleos santos. E à tarde, celebrava-se a ceia, sem liturgia da Palavra. Hoje temos resquícios dessa tradição. Em geral, no final da quaresma promovemos, em nossas paróquias, sentidas celebrações comunitárias da Penitência, além de oferecer ocasião para confissões individuais para os que assim o desejem. Dessa maneira, conservamos a idéia da reconciliação dos penitentes no final do percurso quaresmal.

Na 5a.feira, pela manhã, temos a belíssima celebração da Missa da Unidade e da consagração dos óleos. Em geral, nas dioceses o bispo preside à expressiva concelebração com todos os sacerdotes e com a presença de enorme multidão de fiéis. Dessa maneira exprime-se a unidade da Igreja. Nessa missa se consagram os óleos santos, que servirão durante o ano para a administração dos sacramentos. À tarde, nas paróquias, comemora-se a Ceia do Senhor com o Lava-pés e o Sermão do Mandato da caridade.

A 6a. feira é dedicada à memória da Morte de Jesus. Dia de jejum com abstinência para que o corpo acompanhe um pouco a meditação e a contemplação dos sofrimentos de Jesus. Há uma única celebração que não é missa. Não se realiza o ato central da celebração eucarística, que é a consagração do pão e do vinho, mas se conservam as espécies consagradas na véspera. Distribui-se a comunhão. Os mais velhos devem lembrar-se de que antigamente nem mesmo se podia comungar, significando a dor pela morte de Jesus. Hoje percebemos que a comunhão nos ajuda mais a essa união com os mistérios de Jesus.

A Vigília Pascal encerra o tríduo. Entra-se no espírito da Páscoa. Irrompem as alegrias da Ressurreição. Momento de imenso júbilo recordando a vitória de Cristo sobre a morte. Deus Pai, que acolhera sua vida como oferta de amor salvador por nós, devolve-lha, já não mais na forma mortal, frágil, mas sim gloriosa, imortal, esplendorosa.

Há tanta beleza para celebrar nesses três dias! As liturgias são, por isso, mais longas para que curtamos melhor esses mistérios. Temos também lindas procissões que deveriam ser momentos de oração e meditação. Que a Semana Santa não nos passe despercebida! E sobretudo que não se converta em feriados prolongados, alheios a toda piedade!

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