Paulo Cesar Rink Equipe Êxodo - MFC Curitiba |
Considero todos os dias e meses
vividos como uma benção de Deus. Confesso não ter preferência por determinado
mês, ano ou estações deste.
Porém, neste mês de maio vindouro
em 2013, algo será diferente. Para celebrar algo grandioso dar-se-á que voltar
no tempo.
Corria o ano de 1982, mais
precisamente o mês de novembro, o dia era 26 uma sexta feira. Um lindo dia de
um quente verão na cidade de Pedreira, estado de São Paulo.
Com 17 anos e trabalhando com
carteira assinada desde os 12 anos – sim naquele tempo era permitido – eu
ajudava papai e mamãe no orçamento do lar. Era responsável por 10 garotos e
fazíamos engradados de madeira para as indústrias de porcelana. Trabalhávamos numa
serraria, um árduo e perigoso trabalho. Os meninos montavam os engradados eu
era o responsável pelo corte da madeira na serra circular. Faltando cinco
minutos para o termino de nosso expediente sofri um grave acidente, que até
hoje trago as sequelas.
Confesso que não me lembro do
fato. Lembro-me de um grito e minha mão ensanguentada, três dedos pendurado,
ossos, dos dedos, esparramados e uma íngua no braço, proporcionada por tamanha
dor. Fui levado ao hospital da cidade. Porém, não havia como ser atendido ali. Faltavam
médicos e estrutura.
Fui transferido para o Hospital
Irmãos Penteado, em Campinas, conduzido num velho Passat, pois não havia
ambulâncias.
Fui atendido na emergência.
Lembro-me das anestesias que não “pegaram” e dos pontos sendo dados nos meus
dedos a “seco” como disse o médico. Por ironia do destino fui atingido, nos
três dedos centrais da mão direita e, nas falanges (Juntas) médias. Ossos foram
“arrancados” pela máquina. Um dos dedos ficou preso “apenas” pela pele.
O tempo se passou. Em Fevereiro
de 1983 a primeira cirurgia. A esperança no coração de um jovem era que logo
pudesse voltar ao labor e ajudar no sustento do lar. Neste ano a crise do
petróleo, a segunda, chegou com força ao Brasil e, papai perdeu o emprego.
Nossa renda se resumia a uma pequena poupança, ao minguado dinheiro do (inss) e
ao trabalho braçal de papai, onde hoje é a cidade de Holambra.
A tão esperada cirurgia não deu o
resultado esperado. E o diagnostico veio como um pesadelo. Teria que continuar
o tratamento em São Paulo. Lembro bem da expressão de minha mãe no consultório
médico. Jamais esquecerei.
Em abril de 1983 lá fomos eu e
papai, sem conhecer direito a tão falada Paulicéia desvairada, para São Paulo.
Sem conhecer e sem dinheiro. Nosso Almoço? Uma preciosa coxinha. Esperamos por
mais de cinco horas pelo médico, no hospital Santa Cruz, bairro do Jabaquara.
O “doutor” nem olhou a minha mão.
“quero os raios Xs” disse. Não tínhamos, pois o INSS não liberava. “Voltem
outro dia com eles”. Disse-nos.
Somente na terceira ida para São
Paulo e com os ditos “raios Xs” não mãos o tal “doutor”, de triste memória, nos
atendeu.
Examinou a minha mão e foi
direto. “Tem que tirar os três dedos do Rapaz”, bradou. Papai empalideceu e meu
chão sumiu. Meu pai, na sua simplicidade de um roceiro e na sua imensurável
sabedoria, tentou arguir com o estudado doutor. “O senhor entende alguma coisa
de mão”? Perguntou o médico para meu pai.
Não! Exclamou papai. “Mais um
pessoa com tamanha falta de educação não vai tirar os dedos de meu filho. Passe
bem, doutor”. Levantamo-nos e fomos embora.
Ao chegarmos a nossa casa mamãe,
como sempre fazia, veio nos esperar no portão. Certamente, esperançosa por uma
boa notícia. Lembro que meus pais conversaram, longamente, no quarto de casal.
Desta conversa jamais vou esquecer as cenas que se sucederam. Mamãe sempre teve
e, ainda hoje a têm uma “imagem” de Nossa Senhora de Aparecida.
Lembro-me, claramente, como um
filme recente, da porta entreaberta, mamãe aos prantos, ajoelhada e uma vela
acesa rogava a Maria que intercedesse.
Ao sair e, sem perceber o que eu tinha presenciado me disse. “Filho Deus
está com você. Nada vai te acontecer.”
Era uma quinta feira. Na segunda
feira seguinte fui à Campinas no INSS. Fui, novamente, encaminhado para São
Paulo para outro hospital. Hospital dos defeitos da Face, na LBA.
Fui atendido por um generoso
médico. Dr. Marcos. Ele olhou minha mão e me disse. “Quem é o louco que queria
tirar seus dedos, menino?” “Vou recuperar grande parte de seus movimentos”!
Exclamou.
Fiz a delicada cirurgia no dia 27
de maio de 1983. Tiraram ossos de meu braço e colocaram em meus dedos e com
eles escrevo este texto.
Todos os dias a Deus, agradeço,
pelo meu amado papai e minhas duas Mães Marias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário