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SOLTEIRO E CASADO AO MESMO TEMPO?
O homem e a mulher pós-modernos não abrem mão da própria integridade, da própria singularidade, isto todo mundo sabe. Nenhum quer abrir mão de nada do que julga ser essencial para seu EU. O que talvez não esteja tão claro é que, ao casarem, os dois correm o risco de formarem uma dupla de solteiros morando juntos. Isto porque o casamento consiste na vivência de uma estranha fórmula: 1 + 1 = 3, isto é: o homem, a mulher e o casal (o nós) formam três “entidades” que co-existem e se enriquecem mutuamente. Se um destes três elementos for desconsiderado, não há casamento possível. O casamento expande e ao mesmo tempo limita a própria identidade. Quem dos casados não experimentou isto? Então, ou fico solteiro ou escolho casar, ninguém pode ter tudo o tempo todo.
Ainda que sejamos casados, os elementos de separação se fazem sentir, porque nós temos necessidades fundamentais diferentes ligadas ao nosso físico, à nossa personalidade, ao nosso sexo e à nossa história pessoal, e que não podemos deixar de satisfazer durante muito tempo. É possível adotar um comportamento que não nos satisfaça profundamente, mas as emoções e os sentimentos não podem ser sempre camuflados por aquele que os sente.
Há casais, por exemplo, onde ele deseja sair, fazer esporte, estar com amigos, viajar. Ela gosta da solidão e de ler. Se ele abandonou estas facetas de sua identidade, cruciais para ele, ao longo dos anos ficará amargurado e deprimido e nascerá o desejo de deixar a mulher. Uma mudança acontecerá no casal quando ele aprender a identificar o que considera justo para ele e a dizer isto à mulher assumindo suas responsabilidades. Para isto é preciso domesticar o medo que ele tem de ser rejeitado pela esposa. Um E o outro devem permanecer, e não um OU o outro.
As necessidades fundamentais dos cônjuges evoluem ao longo da vida, por isto sempre precisam ser descobertas. Isto implica tomar tempo para elucidar o que é importante para si e comunicá-lo ao outro, resistindo à tentação de silenciar.
Porém, há uma entidade que precisa igualmente ser alimentada: é a relação, também chamada de conjugalidade. Alimentar a vida a dois hoje implica uma visão “processual” e evolutiva do casal, permitindo superar as dificuldades. Trata-se de passar de “nós fomos feitos um para o outro” para “eu te amo e eu escolho estar contigo hoje”, numa relação engajada, na qual os dois serão criativos para descobrirem e renunciarem o necessário em cada um, a fim de que os dois sejam felizes. Isto é ao mesmo tempo rico e exigente.
O equilíbrio é necessário à vida, e o equilíbrio está no movimento e na fluidez, e não na cristalização. Ora, a vida de casal é ameaçada por diversas formas de cristalização: uma ligada à própria instituição do casamento, outra em razão da estrutura de personalidade dos cônjuges, e uma terceira ligada à vida cotidiana potencialmente longa e geradora de rotina e possível fadiga. Existem riscos fortes de uma vida de casal triste, pesada, por vezes destrutiva se não houver constante vigilância e investimento na relação. À primeira dificuldade pode vir a separação.
Contudo, há casais criativos que integram individualidade e conjugalidade, realizam-se como pessoas e são felizes como companheiros, em aventura onde o amor cresce cada dia e a cumplicidade não cessa de se expandir. Este caminho todos somos chamados a trilhar!
Parabéns! Texto muito bom!
ResponderExcluirJuliana