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domingo, 16 de outubro de 2011

29º Domingo do Tempo Comum

Por: Padre Wagner Augusto PortugaL
"Clamo por vós, meu Deus, porque me atendestes; inclinai vosso ouvido e escutai-me. Guardai-me como a pupila dos olhos, à sombra das vossas asas abrigai-me." (Sl 16,6.8)
Irmãos e irmãs,l

Refletiremos neste domingo acerca da soberania de Deus e o nosso relacionamento com as coisas do mundo político. Está presente a famosa frase “Daí a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”(cf. Mt 22,21). Na primeira leitura desta Santa Missa(cf. Is 46,1.4-6) o rei pagão, Ciro, é instrumento de salvação nas mãos de Javé, o rei verdadeiro.  O rei Crio, o pagão que fez os judeus voltar do Exílio. Embora ele conheça Deus só por ouvir dizer, Deus o conhece, o toma pela mão; o profeta até o chama de “ungido”, o título da dinastia davídica: pois ele atua em favor do povo de Israel. Ciro é um bendito instrumento nas mãos de Javé, para tornar conhecido seu nome, sua fama de ser um Deus que salva.

Caros irmãos,

Jesus, ao fim de sua pregação, entrou abertamente em conflito com as autoridades do povo judeu. Em vista disso, quiseram armar para Jesus uma cilada, para que as autoridades o pegassem em alguma palavra que pudesse ser o motivo de sua condenação, ou seja, que fosse contra os princípios judaicos.

Esse trecho do Evangelho de hoje (Mt 22,15-21) é bem conhecido de todos: O que é de César e o que é de Deus. Inúmeras vezes, durante toda a caminhada pública de Jesus, o Salvador enfrentou os chefes do povo e aqueles que se colocavam contra a sua Pessoa, o seu Reino e a sua Missão. Tudo isso porque Jesus veio pregar a libertação, denunciar o sistema religioso de então, maculado pelos interesses mesquinhos, cheio do rigorismo de prescrições rituais que mais amarravam, do que proporcionavam a salvação.

Mateus, portanto, nos ensina neste domingo de quais virtudes os cristãos devem se lembrar na sua caminhada: a sinceridade, a honestidade, a abertura do coração, o espírito do acolhimento, a prática de boas obras, a coerência entre o dizer e o fazer, entre outras diretivas para o bem viver de uma vida voltada para as coisas do Senhor da Vida.

Os fariseus não tinham coragem de enfrentar Jesus, por isso eles mudaram de tática, tentando provocar Jesus a cair em tentação.

Meus irmãos,

Jesus nos pede hoje que tenhamos atenção em dois pecados muito recorrentes e comuns nos dias de hoje: a exploração e a falsidade.

O contexto atual é igual ao de dois mil anos atrás. A Palestina era colônia romana, totalmente dependente do poder central. Na colônia, todos deveriam pagar tributos exorbitantes, ou seja, impostos ao Imperador Romano, que era conhecido pelo nome de César - César Augusto. O tributo era pago com uma moeda de prata, chamada denário, que tinha impressa a figura do Imperador. Além de não poder citar o nome de César Augusto, porque “augusto” era um adjetivo reservado somente para Deus e proclamá-lo em vão era uma blasfêmia, os judeus queriam que Jesus entrasse em contradição, até porque eles se sentiam profundamente humilhados no pagamento do imposto, que era exorbitante e pesado. Mais do que isso, um judeu pagar imposto para um rei que não fosse hebreu, era um absurdo, porque teria que reconhecer nele o representante de Deus, o que contradizia as leis, os profetas, costumes e dignidade de raça. Manusear essa moeda para eles também era um sacrifício, uma idolatria, porque no denário estava inscrito “divino” Augusto. Tudo em volta do tributo era repugnante, porque ia contra os sentimentos de dignidade, sobretudo dos fariseus, que eram muito xenóbofos e nacionalistas.

Respondendo que os judeus deveriam pagar o tributo poderiam acusá-lo de estar a serviço dos estrangeiros, de ser explorador do povo, de trair sua raça, podendo ser apedrejado por isso. Se respondesse não, seria acusado de subversão e de sonegação, podendo ser levado ao procurador romano para ser condenado. Enfim, tudo foi colocado para que Jesus, respondendo afirmativa ou negativamente, fosse sumariamente condenado e eliminado, porque incomodava ao poder religioso de então, que era medíocre e sem compromisso com a edificação do Reino de Deus.

Meus irmãos e irmãs,

O homem é, ao mesmo tempo, corpo e espírito, terra e céu.

A religião não abrange somente a alma. Ela envolve o homem inteiro, seu ser e seu fazer, seu presente e seu futuro. A lição do Evangelho é que todas as dimensões: religiosa, social, política e econômica se complementam, se necessitam e devem ser igualmente respeitadas, acontecendo - ao mesmo tempo e com a mesma meta – a felicidade escatológica.

A pessoa humana é o todo. “Dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” significa não negligenciar nem a dimensão para o alto, nem a dimensão social em suas diversas manifestações. Quando dizemos “dar a César o que é de César” nunca podemos deixar Deus de lado. Também nossos compromissos com o país, com a economia, com a política, com a cultura, com o trabalho e com o progresso devem sempre respeitar os mandamentos de Deus que ilumina todos os setores da vida do homem. Em tudo, mas em tudo mesmo, Deus deve estar presente em primeira mão. Tudo isso porque Ele nos criou à sua imagem e semelhança. Em vista disso, todos nós trazemos a marca de Deus.

Caríssimos,

A segunda leitura (1Tessalonicenses 1,1-5) nos fala da chegada da parusia.

O texto nos apresenta um itinerário de vida para esta semana: fé atuante, caridade abundante e esperança perseverante. Paulo, nesta carta, tem bons motivos para dar ação de graças, poucas semanas trabalhou em Tessalônica teve que partir às pressas, mas a fé cresceu, a forca de Deus operou neles: eles são os eleitos. A carta toda é agradecida lembrança e experiência da vinda do Senhor.

A missa de hoje nos questiona: a construção da cidade terrestre é uma tarefa importante, mas não será ela caduca? Construindo a cidade dos homens contribui-se ou não para a edificação do Reino de Deus? Não serão dois reinos distintos?

Para nós católicos a esperança não se realiza, certamente, em plenitude, senão na vida eterna. Entretanto, a esperança se manifesta e é eficaz aqui e agora: é uma força imensa no mundo, é um fermento poderoso que o faz levedar, é um sal que dá sentido e sabor ao esforço humano de libertação, ao empenho temporal.
Não existem duas esperanças: uma terrena e outra celeste. A esperança é uma só: ela está intimamente ligada ao Céu, mas através do empenhamento cristão, a antecipa na realidade terrestre.

O cristão deve dizer sim à vida e não à violência que traz o uso das armas de fogo. Os irmãos e irmãs de caminhada devem ter a fé de Deus, que nos fez à sua imagem e semelhança, para iluminar os rumos do Brasil, com caridade e esperança nestes momentos difíceis. Porque de esperança e esperança, dando a César o que lhe pertence e a Deus tudo o que lhe devemos, vamos construir uma grande Nação, sendo a meta o centro da liturgia de hoje: estarmos, todos, à disposição do supremo Senhor, na construção da globalização da solidariedade

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