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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

AMIGOS(AS). SABIÁS!

Na atribulada vida urbana deixamos de presenciar, ou vivenciar, as maravilhas proporcionadas pela natureza. São pequenos detalhes que o corre-corre, os inúmeros compromissos, os afazeres, o trânsito e toda agitação da vida moderna fazem com que deixamos passar, despercebidos, o mais maravilhoso espetáculo da terra. A renovação da vida. É uma explosão de vitalidade que renova o planeta em cada instante. Para podermos assistir a este festival de vida são necessários dois requisitos básicos e tão escassos nestes tempos modernos. Tempo e paciência. Nada mais.
 
Acredito ser a natureza a mais pura manifestação de uma força a qual denomino de Deus. A perfeição em cada detalhe é algo que transcende nossa compreensão humana e nos conduz para rumos desconhecidos. Um poeta declarou certa vez ser o sol o mais anônimo e mais maltratado dos atores pois, toda manhã, esse ator proporciona um belo espetáculo, no entanto a maioria da platéia dorme e não bate uma única palma.

Certamente, estes são os meses que mais gosto do ano. Adoro acordar em plena madrugada para ouvir o belo cantarolar dos pássaros. Especialmente os sabiás. São como orquestras, com harmoniosas melodias, regidas por um maestro maior, que ilumina minha alma e fortalece o  meu espírito.

Um verdadeiro ballet donde o cantarolar é somente em agradecimento à noite que passou  e o dia vindouro que se aproxima. Diferente dos humanos que reclamam de tudo e de todos os pássaros em sua infinita sabedoria agradecem pela vida. Quanta diferença!

Faz vinte e cinco dias fui agraciado com uma destas benções. Um casal de sabiás. Fizeram o seu ninho num cantinho aconchegante da minha casa. A principio ocorreu-me à idéia  de tirar o ninho daquele lugar – idéia estúpida, por sinal – recuei diante da perfeição da obra  e do incansável trabalho dos pássaros.

Ali botaram seus ovinhos, criaram sua família. Cinco filhotes. Dentro do meu lar construíram um outro lar. Numa destas frias noites, tipicamente curitibana, fui agraciado com um maravilhoso espetáculo – de graça – do casal. Para proteger seus filhotes deitaram os dois em sentido contrário no ninho proporcionando calor para seus pimpolhos. Confesso que me emocionei e comecei a imaginar a congruência daquele gesto.

Porém, um fato inesperado aconteceu. Num dos seus vôos, acredito que ofuscado pela luz que emanava da lâmpada, o macho se chocou contra a parede e morreu. Confesso que fiquei muito chocado. Lágrimas rolaram pela minha face e pegando a pobre ave, já falecida, fiquei a lhe admirar tamanha beleza. Sua plumagem de admiráveis cores, e tons sua inteligência e seu senso de proteger seus filhotes fizeram me lembrar da inesquecível frase da doutora Zilda Arns.  “Protejam seus filhos como as aves. No topo das árvores para que predadores não os apanhem”

Fiquei a imaginar o que seria dos filhotes! Como humano e vivendo num trágico mundo, donde os valores de família tornaram–se algo  cafona e quase desprezível temi que a fêmea, assim como muitos humanos o fazem, fosse abandona-los. Ledo engano.

Pela manhã notei que a fêmea fazia incessantes vôos trazendo no seu bico o alimento para os filhotes. Parei meu trabalho, desliguei o computador, celular e toda a parafernália eletrônica que me acompanha no dia-a-dia e fiquei, por muito tempo, observando aquele maravilhoso pássaro em seu árduo trabalho. Uma aula para nós. Humanos! Confesso que poucas vezes, na vida, pude observar tamanha manifestação de amor, apreço pela vida, doação de si para com um outro ser. Um arrepio cortou-me o corpo, minhas emoções se afloraram e chorei. Sim chorei! Mais um choro de alegria por ser agraciado com tamanha beleza.  Na minha visão religiosa senti a presença de Deus.

Régis Jolivet, em suas tentativas de descrever a racionalidade humana diz que “o ser humano é o único ser vivo que pode fazer tantas coisas majestosas como desgraçadas. As outras criaturas só fazem coisas maravilhosas  e que o desejo é parte integrante do dinamismo sensível”. Sim! Sensibilidade é o que esta adorável ave mais tem e talvez tanto nos faz falta.

Paulo Rink
MFC CURITIBA

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