Lembram quando a gente era criança e brincava na rua? Tenho certeza de que quem tem mais que trinta anos já fez isso. No final da tarde a gente chegava da escola e reunia aquela meninada ou "piazada", como a gente diz aqui na minha terra, para brincar.
Era amarelinha, cabra cega, queimada, esconde-esconde, polícia e ladrão, pé na lata... A gente brincava de roda e, às vezes, até os meninos participavam! Como era bom. Esperávamos escurecer e a mãe chamar para então, a gente entrar.
Hoje, as crianças têm outras diversões: TV, videogame, computador... São tempos modernos! Não dá mais para sair e brincar na rua. Hoje alguns adolescentes e até crianças, atravessam a noite junto ao computador. Claro que não dá, no mundo de hoje, para afastar as crianças da tecnologia. Mas, será que não há mais espaço para se brincar daquelas coisas gostosas que faziam com que a gente não quisesse voltar pra casa?
Penso no quanto as brincadeiras de infância estimulam a imaginação e a inteligência das crianças, sem falar no desenvolvimento social. A gente aprende a ter amigos. Mas amigos mesmo, daqueles que compartilham segredos e aventuras e não que só conversam com a gente pela internet.
Ah... O passa-anel, o coelhinho sai da toca, o fogo-foguinho e o pular cachola, então? Simplesmente maravilhoso. Lembro com muita saudade da minha infância. Não precisávamos tanto de bens materiais, brinquedos eletrônicos... Nada era tão complicado. As crianças não tinham depressão! A gente dormia às nove horas da noite porque estava cansado tanto de brincar.
Foi pensando nisso que comecei a brincar com as crianças na catequese. Era meu primeiro ano como catequista. E eu ainda não sabia bem como ocupar aquela uma hora e meia de encontro. Sempre sobravam quinze ou vinte minutos no final do encontro. Certa vez durante um encontro fizemos uma dinâmica que consistia em vendar os olhos de uma criança e pedir para que outra fosse seu guia, relembrando a confiança de Abraão em Deus. Começamos a fazer a dinâmica na sala, nos corredores, na secretaria e as crianças também se divertiam com aquilo. Pensei: "porque não brincarmos de cabra-cega?" Fomos para o pátio da igreja e as crianças se divertiram muito naqueles últimos vinte minutos.
A partir de então, todo encontro, sempre reservava uns minutos para as brincadeiras: cabra-cega, polícia e ladrão, pega-pega... Nos encontros, alguns meninos mais agitados, já começavam a me perguntar quando íamos sair para brincar a partir da primeira meia hora do encontro! Aí as brincadeiras passaram a fazer parte da nossa rotina, sempre como um prêmio pela atenção e pelo bom comportamento durante o encontro. Também sempre procurei adaptar as brincadeiras à mensagem que eu queria transmitir no encontro como: solidariedade, amizade, companheirismo, perseverança, fé.
Quando falamos sobre a páscoa judaica, por exemplo, nós fizemos um piquenique embaixo de uma árvore no pátio. A alimentação era como da época: ervas amargas, pão ázimo, cordeiro, vinho (suco de uva). Contei a história e repetimos o que os hebreus fizeram. Conversamos sobre as dificuldades que eles passaram e como nossa vida hoje é boa se comparada à daquelas pessoas.
Algumas vezes também brincávamos, só por brincar ou fazíamos encontros ao ar livre, sentados na grama. Percebi o quanto isso foi bom para as crianças, o quanto nos "socializamos" mais, o quanto elas se tornaram mais unidas e mais amigas. A catequese deixou de ser aquela "aula" chata e passamos a falar de Jesus ali, no meio das nossas conversas e brincadeiras. Os momentos sérios, de oração e leitura do evangelho, passaram a ser mais valorizados, pois sempre tirávamos uma lição para o nosso dia a dia.
É bom proporcionar esses momentos lúdicos às crianças, pois a maioria delas vive fechada em casa ou em um apartamento e não sabe realmente brincar. Com isso elas se tornam adultos precoces: preocupados com coisas e problemas que não são delas. Pressionados pela realidade da falta de tempo e atenção dos pais elas buscam no mundo virtual, que pode ser perigoso, aquilo que poderiam estar vivenciando no seu dia a dia: brincar e ser criança.
Ângela Rocha
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