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domingo, 15 de dezembro de 2013

Correio MFC Brasil 345





O papa Francisco acaba de divulgar o documento "Alegria do Evangelho”, no qual deixa claro a que veio. Sua voz profética incomodou a CNN, poderosa rede de comunicação dos EUA, que lhe concedeu a "Medalha de Papelão”, destinada àqueles que, em matéria de economia, falam bobagens... Julgue o leitor.




Quais as “bobagens” proferidas pelo papa Francisco?

"Hoje devemos dizer não a uma economia da exclusão e da desigualdade social. Esta economia mata. Não é possível que a morte por enregelamento de um idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão. Não se pode tolerar mais o fato de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isto é desigualdade social.”

"Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco. Em consequência dessa situação, grandes massas da população veem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída.”

"O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e, depois, lançar fora. Assim teve início a cultura do «descartável» que, aliás, chega a ser promovida. Já não se trata simplesmente do fenômeno de exploração e opressão, mas de uma realidade nova: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder já não está nela, mas fora. Os excluídos não são explorados, mas resíduos, sobras.” (53)

Em seguida, Francisco condena a lógica de que o livre mercado consegue, por si mesmo, promover inclusão social:

"Esta opinião, que nunca foi confirmada pelos fatos, exprime uma confiança vaga e ingênua na bondade daqueles que detêm o poder econômico e nos mecanismos sacralizados do sistema econômico reinante. Entretanto, os excluídos continuam a esperar.”

"Para se poder apoiar um estilo de vida que exclui os outros ou mesmo entusiasmar-se com este ideal egoísta, desenvolveu-se uma globalização da indiferença. Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe.”

"A cultura do bem-estar anestesia-nos, a ponto de perdermos a serenidade se o mercado oferece algo que ainda não compramos, enquanto todas estas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem um mero espetáculo que não nos incomoda de forma alguma.” (54)

O papa enfatiza que os interesses do capital não podem estar acima dos direitos humanos:

"Uma das causas desta situação está na relação estabelecida com o dinheiro, porque aceitamos pacificamente o seu domínio sobre nós e as nossas sociedades. A crise financeira que atravessamos faz-nos esquecer que, na sua origem, há uma crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano.”

"Criamos novos ídolos. A adoração do antigo bezerro de ouro (cf. Êxodo 32, 1-35) encontrou uma nova e cruel versão no fetichismo do dinheiro e na ditadura de uma economia sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano. A crise mundial, que envolve as finanças e a economia, põe a descoberto os seus próprios desequilíbrios e, sobretudo, a grave carência de uma orientação antropológica que reduz o ser humano a apenas uma das suas necessidades: o consumo.” (55).

Sem citar o capitalismo, Francisco defende o papel do Estado como provedor social e condena a autonomia absoluta do livre mercado:

"Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Por isso, negam o direito de controle dos Estados, encarregados de velar pela tutela do bem comum.”

"Instaura-se uma nova tirania invisível, às vezes virtual, que impõe, de forma unilateral e implacável, as suas leis e as suas regras. Além disso, a dívida e os respectivos juros afastam os países das possibilidades viáveis da sua economia, e os cidadãos do seu real poder de compra. A tudo isto vem juntar-se uma corrupção ramificada e uma evasão fiscal egoísta, que assumiram dimensões mundiais.”

“A ambição do poder e do ter não conhece limites. Neste sistema que tende a deteriorar tudo para aumentar os benefícios, qualquer realidade que seja frágil, como o meio ambiente, fica indefesa face aos interesses do mercado divinizado, transformados em regra absoluta.” (56)

Enfim, um profeta que põe o dedo na ferida, pois ninguém ignora que o capitalismo fracassou para 2/3 da humanidade: as 4 bilhões de pessoas que, segundo a ONU, vivem abaixo da linha da pobreza.

[Frei Betto é escritor, autor do romance "Minas do Ouro” (Rocco), entre outros livros.http://www.freibetto.org/ -twitter:@freibetto.

Copyright 2013 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor.

O Correio MFC tem a autorização do autor.


Recordando as mudanças na Igreja
Helio Amorim
Os mais jovens podem não acreditar nestas recordações...

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No passado ainda recente, antes do Concílio Vaticano II, anos 60, aprendíamos nos bancos das nossas escolas católicas que a concepção do homem era dicotômica: corpo e alma, duas realidades distintas, uma destinada a sofrer "desterrada neste vale de lágrimas", a outra destinada ao céu ou inferno, com provável passagem purificadora pelo purgatório, no primeiro caso.

O corpo era um risco para a salvação, por estar fortemente sujeito às tentações do demônio, sempre presente e próximo de cada incauto, pronto a levá-lo à perdição.

A forma de se proteger da ação permanente do demônio onipresente eram as mortificações e sacrifícios auto impostos, a oração e leituras piedosas mas,  especialmente, as práticas religiosas que ofereciam o passaporte garantido para o céu.

A mais difundida era comungar em nove consecutivas primeiras sextas-feiras do mês. Segundo constava, numa revelação de Jesus em aparição a um dos santos da Igreja, essas nove comunhões assegurariam definitivamente a salvação. Todos então partiam para a conquista dessehabeas corpus preventivo, alimentando secretamente a expectativa de liberdade total depois dessa conquista... e, cuidado: morrer antes da nona comunhão poderia pôr tudo a perder.

Acontece que essa salvação assim espertamente assegurada, não nos livraria de pagar a conta pelas bobagens cometidas durante a vida. Uma passagem purificadora pelo purgatório era quase inevitável, a menos que morrêssemos "em estado de graça", absolvidos no último momento de todas as culpas, pela confissão feita a um sacerdote.

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Como essa possibilidade era precária, e considerando que a permanência no purgatório era determinada em dias, anos ou séculos, conforme a gravidade das nossas artes, éramos orientados a acumular créditos durante a vida. Chamavam-se indulgências. Nos livros de orações, cada uma terminava com a indicação correspondente dos créditos gerados cada vez que fosse recitada: 300 dias de indulgência, por exemplo. Algumas dessas orações eram apenas uma curta invocação, chamadajaculatória, para facilitar-nos decorar e repeti-las maquinalmente dezenas ou centenas de vezes ao dia.

Para a contabilidade, o colégio distribuía, no início de cada mês, um impresso em que devíamos anotar as indulgências que se conquistavam cada dia, com espaço para a totalização no fim do mês. Algumas orações, como uma de Santo Tomás de Aquino, asseguravam indulgência plenária, se rezadas imediatamente depois da comunhão. Desequilibravam a contabilidade e confundiam as anotações porque apagavam todas as penalidades de purgatório acumuladas até aquele momento...

Todas essas indulgências eram gratuitas, ao contrário de práticas do passado em que a história registra a sua venda habitual, pela Igreja, a personalidades pouco merecedoras, interessadas em comprar o céu a preços módicos (uma das razões alegadas por Lutero para romper com a Igreja há cinco séculos).

Por outro lado, os cristãos, mesmo adultos, estavam proibidos de ler uma imensa lista de livros que poderiam colocar em risco a sua fé. Era pecado grave desrespeitar o Index dos livros proibidos. Lá estavam, por exemplo, os de Darwin e dos seus seguidores, que elaboravam a teoria da evolução das espécies, derrubando a crença equivocada de que o relato bíblico da Criação fosse uma crônica histórica, já arranhada pelas descobertas de Copérnico e Galileu - todos eles cientistas a quem a Igreja pediu perdão.

Muitas outras restrições e proibições se acumulavam, engessando o desenvolvimento da consciência crítica dos cristãos para não se perderem, resultando em alienação e fuga à responsabilidade na construção do Reino. 
Ora, o famoso Index dos livros proibidos desapareceu, e as teorias de Darwin, já agora muito desenvolvidas e documentadas, são ensinadas nas escolas católicas.

A separação entre o corpo e a alma, como duas realidades distintas e superpostas, herança do neoplatonismo, já não faz parte da doutrina católica. A história humana é valorizada, não é tempo de degredo ou exílio, e o mundo não deve ser um vale de lágrimas. O cristão é desafiado a empenhar-se na construção de um mundo justo e fraterno, para que assim seja feita a vontade de Deus, aqui na terra, como já prometido para o céu.

Muito mais foi mudando ao longo destes anos ainda recentes, e vão continuar mudando neste papado. É um processo saudável de purificação de crenças e normas que mantinham cristãos adultos no nível de fé infantil.

As muitas falas surpreendentes e a primeira exortação apostólica de Francisco, “Evangelii Gaudium”, já avançam decididamente na depuração de doutrinas e práticas ensinadas nas últimas décadas.

Frases luminosas

*      A cordialidade supõe capacidade de sentir o coração do outro e o coração secreto de todas as coisas. Leonardo Boff

*      Morremos como mortais que somos e vivemos como se fôramos imortais. Sêneca

*      Mas tudo o que é grande é tão difícil de compreender quanto de encontrar. Espinosa

*      O verdadeiro poder vem da ajuda e do serviço aos outros. Dalai Lama

*      O que nos faz bons ou maus não é aquilo que nos acontece, mas sim o que nós mesmos fazemos e somos. H. Rohden

*       A única coisa importante, quando nós partirmos, serão os traços de amor deixados por nós. Albert Schweitzer


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