No entanto, já se passou quase um ano daquele dia em que o Conclave varreu a tradição de mais de doze séculos ininterruptos da eleição de papas europeus. Vale lembrar que o primeiro Papa não-europeu foi propriamente o primeiro Papa da história: São Pedro era proveniente da Terra Santa, como Jesus.
De fato, o último Sucessor de Pedro não-europeu fora Gregório III, sírio, Pontífice de 731 a 741. Como se sabe, as novidades não ficaram por aqui: primeiro Papa do Continente Americano – filho da América Latina, primeiro da Companhia de Jesus a calçar as "Sandálias do Pescador", primeiro a chamar-se Francisco.
O mais importante, porém, estava por vir, e podia-se intuir da escolha do Papa Bergoglio, ao tomar para si o nome do pobrezinho de Assis: o manifesto desejo de "uma Igreja pobre, para os pobres", com os pobres e dos pobres; uma Igreja em estado permanente de missão, capaz de sair de si, de suas comodidades e ir "às periferias geográficas e existenciais" – como ama repetir –, "mesmo a custa de acidentar-se".
Em todo caso, é absolutamente dispensável evocar aqui aqueles elementos que têm levado ao que de há muito têm chamado de a "Revolução de Bergoglio", a grande atenção que este Pontificado tem despertado no mundo inteiro. Por isso, prefiro evitar o risco de tornar-me repetitivo.
De fato, de lá para cá, neste quase um ano, foram escritos dezenas de livros, produzidos centenas de documentários e reportagens, e milhares de artigos sobre o Bispo de Roma que veio "quase do fim do mundo", como definiu-se ele mesmo, da sacada da Basílica Vaticana, ao cair da tarde daquele 13 de março.
Por isso mesmo, sem a pretensão de acrescentar nada de realmente novo, gostaria somente de partilhar com você, amigo ouvinte e caro leitor – e assim convidá-lo a ulterior reflexão –, apenas algumas parcas considerações.
Como se sabe, o Espírito Santo dá à Igreja o Papa de que ela precisa para cada momento da história. Atendo-nos apenas aos últimos pontífices, podemos lembrar o bom Papa João XXIII, que por inspiração do Espírito Santo, convocou e iniciou o Concílio – trazendo uma verdadeira Primavera na Igreja; seguido do Papa Paulo VI, excelso pastor, homem de elevada envergadura cultural, a quem coube continuar, concluir e iniciar a aplicação do Concílio.
Depois tivemos Albino Luciani, o Papa João Paulo I, que tão logo partiu, ocupando a Cátedra de Pedro no breve espaço de um sorriso.
Em seguida, o grande Papa João Paulo II, cuja eleição, em 1978, interrompeu a tradição de quatro séculos e meio de papas italianos. De fato, o último não italiano havia sido Adriano VI, holandês.
Em 2005 tivemos a eleição de Bento XVI, grande catequizador, insigne teólogo, o Papa que em suas primeiras palavras como Pontífice se definiu "um humilde trabalhador na vinha do Senhor", que quase oito anos depois, num gesto de estrema humildade, lucidez e desapego, surpreendeu o mundo inteiro, renunciando em fevereiro do ano passado.
Décimo segundo Papa não-europeu, Bergoglio traz para a Cátedra de Pedro, de onde irradia o alto Magistério petrino, o modo de ser e de viver da Igreja na América Latina, subcontinente onde se encontra quase a metade de todos os católicos do mundo inteiro.
E traz para a velha e cansada Europa a experiência eclesial de uma Igreja jovem, viva e dinâmica, cujo Pontificado também representa mais responsabilidades e desafios para a Igreja nesta porção do "Continente da Esperança".
Manifestamente contrário ao "culto da personalidade", o Papa Francisco nos remete continuamente a Cristo e a seu Evangelho, incentivando-nos a fixar nosso olhar unicamente em Jesus, fazendo-nos sentir – como disse em outra circunstância e contexto seu vigário-geral para o Estado da Cidade do Vaticano, Cardeal Angelo Comastri – o perfume do Evangelho, o perfume da palha da gruta de Belém.
A Francisco, nosso irmão, nossas contínuas orações por ele, por suas intenções, pela Igreja e pelo mundo!
Texto proveniente do site da Rádio Vaticano
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