O rádio, ruidoso e às vezes mudo, já representava uma primeira ruptura nesse universo restrito de relações internas nas famílias. Era o mundo chegando às nossas casas, por via eletrônica insipiente, sem passar pelo crivo da escola ou das igrejas. O cinema já progredia e mostrava o mundo antes distante. Durante a Segunda Guerra as famílias já acompanhavam os horrores vividos no velho mundo, colorindo mapas com as notícias dos avanços nazistas e depois do dia-D a invasão aliada até a rendição.
A partir desse momento histórico de restauração da paz num cenário de destruição e mortes, os avanços tecnológicos acelerados para atender às demandas militares foram reorientados para a paz no pós-guerra. As casas foram invadidas pela televisão que ampliou o alcance do rádio e do cinema como formadores de nova cultura nas relações familiares. As ciências humanas dispararam, abalaram valores tradicionais e romperam os limites das crenças e dos catecismos.
A tensão cresceu nas relações dos mais velhos com os jovens nascidos nesse novo cenário de quebra de paradigmas culturais e religiosos que a partir de então foi se agudizando até rupturas irreversíveis.
O diálogo entre gerações ficou mais complexo, com seguidos conflitos e acordos, aos poucos redesenhando novos modelos de relações familiares. As Igrejas foram também desafiadas a rever suas doutrinas sobre a família, para acolher e responder aos desafios da modernidade questionadora.
Essa constatação das profundas mudanças na sociedade moderna ativadas pelos avanços científicos e tecnológicos deveria induzir a mais humildade dos formuladores das doutrinas e pastorais, com maior abertura à novidade que surge dos estudos dos teólogos e as interpelações dos cristãos leigos adultos que as questionam. É desses confrontos fraternos e construtivos que lentamente emerge a verdade, purifica-se a doutrina, humaniza-se a Igreja.
UM SÍNODO SOBRE A FAMÍLIA
A postura repressora do passado ainda se abate sobre teólogos e leigos que contestam questões mal resolvidas na vida da Igreja, interferindo nas relações familiares. Mas começam a ser reavaliadas pelo povo de Deus, provocado saudavelmente por uma consulta inédita do papa Francisco aos leigos de todo o mundo, na preparação do sínodo dos bispos sobre a família, neste ano.
Na pauta, dentre outras questões, o celibato forçado dos sacerdotes, o impedimento do casamento religioso e à participação na Eucaristia de divorciados que voltam a se casar, o reconhecimento da sacramentalidade da sua união, as uniões homoafetivas, com adoção de filhos, e outras questões antes fechadas, sequer admitindo discussões, não obstante a inconsistência das bases teológicas que as sustentavam.
Estamos assim, no patamar de novos tempos nas relações intrafamiliares e sociais, abertos ao muito que seguirá mudando nos próximos anos e décadas, permitindo-nos relativizar as "certezas" que hoje ainda se impõem. É claro que tudo o que se refere ao amor e à justiça, à humanização e à esperança cristã, à caridade e à solidariedade humana, permanecerá como essência da mensagem evangélica nas relações humanas, intrafamiliares e sociais.
O resto é dinâmico e evolutivo, criações humanas sob influxo da cultura, entendimentos provisórios, sujeitos a revisões em vista do avanço das ciências e da reflexão teológica que nenhum autoritarismo impedirá.
Na pauta, dentre outras questões, o celibato forçado dos sacerdotes, o impedimento do casamento religioso e à participação na Eucaristia de divorciados que voltam a se casar, o reconhecimento da sacramentalidade da sua união, as uniões homoafetivas, com adoção de filhos, e outras questões antes fechadas, sequer admitindo discussões, não obstante a inconsistência das bases teológicas que as sustentavam.
Estamos assim, no patamar de novos tempos nas relações intrafamiliares e sociais, abertos ao muito que seguirá mudando nos próximos anos e décadas, permitindo-nos relativizar as "certezas" que hoje ainda se impõem. É claro que tudo o que se refere ao amor e à justiça, à humanização e à esperança cristã, à caridade e à solidariedade humana, permanecerá como essência da mensagem evangélica nas relações humanas, intrafamiliares e sociais.
O resto é dinâmico e evolutivo, criações humanas sob influxo da cultura, entendimentos provisórios, sujeitos a revisões em vista do avanço das ciências e da reflexão teológica que nenhum autoritarismo impedirá.
Helio Amorim
MFC/RJ
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