Resta-nos, porém, uma alternativa. Por meio da percepção de que a ordem do mundo depende de um conjunto de variáveis em sincrônica interface, com o passar do tempo, recolheremos mais experiência do que impressões vagas na mente, de que algo não estava bom, mas que não sabíamos ao certo como fazer para alterar, isto é, o estado de impotência.
Pode, com isso, nascer o que chamamos de desânimo. Pela retomada de que nada se alterará com o mecanismo inexorável do tempo linear, a mente fica impregnada de imutabilidade. Aspecto extremamente preocupante, uma vez que um dos motivos mais graves do vale depressivo chama-se ausência de significado durante a passagem do relógio.
Entretanto, há um princípio búdico que afirma o seguinte: “Nada existe inteiramente só; tudo se inter-relaciona”. Desse modo, por meio de uma conexão mais abrangente com o que percebemos como “mundo”, nasce em nós a consciência de que não estamos isolados da teia cósmica universal. Adentrar no universo desta abertura desencadeia um grandioso espaço de renovação, cujo princípio animador é a não perturbação.
Não perturbar-se aqui não significa tornar-se indiferente. Ao contrário, com a não perturbação encontramos sinais plausíveis de como reagir de modo equilibrado aos tormentos da existência. Serenidade não se coaduna com passividade. O sábio budista é sereno, pois não se inquieta com a ondulação da maré. No centro de sua atitude, está, contudo, a caminhada rumo à tranquilidade no agir. Desse modo, ele não é passivo, uma vez que o passivo não age, pois desistiu de buscar o equilíbrio corpo-mente.
O percurso de uma ação perturbada, ou seja, de um modo de agir em desequilíbrio com as leis universais do bem e do amor, traz consequências terríveis aos que convivem dentro do espaço de influência dessa ação. Por isso, trata-se de encontrar novos modos de pensar o real sentido de nossa perturbação. Certamente uma combinação de elementos internos e externos, que passaram, ao longo de muitos anos, acumulando lixo mental em nosso caminho.
Um caminho possível para reagir à perturbação é o exercício meditativo. Quando se experiência esta prática, a consciência sai paulatinamente do incessante ritmo da perturbação cotidiana da mente, para valer-se da descoberta de um inaudito espaço de vitalidade do ser, a saber: a reconexão com a luz divina por meio da conexão com o universo. Esta indicação deve fazer parte viva de nossos passos cotidianos, a fim de que possamos construir algo intenso no vai e vem da maré da existência, e que se torne, ao longo de nosso caminhar, um ponto de apoio interagindo com as próprias razões existenciais da perturbação.
Namastê!
Jorge Leão
MFC/SENJOV
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