Ainda não se trata de um “documento”, Amas exatamente daquilo que o título diz: um “instrumento de trabalho” para orientar as reflexões da assembleia, para que tenham um foco e não sejam dispersivas; suas partes serão a referência para as intervenções dos participantes e orientarão as intervenções e os grupos de trabalho.
A elaboração desse texto é fruto de uma grande participação de esforços em vários níveis. A assembleia extraordinária do Sínodo, de 2014, tratou dos desafios enfrentados pela família em nosso tempo, que também desafiam a evangelização e a missão da Igreja; esse olhar sobre a realidade da família contemporânea, no mundo inteiro, produziu um Relatório final (Relatio Synodi), a partir do qual, novas perguntas e questionamentos foram enviados às Conferências Episcopais, dioceses e outros organismos da Igreja em todo o mundo.
As abundantes respostas, enviadas à Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos até o final de abril de 2015, ofereceram muita matéria, integrada no Instrumentum laboris, sobretudo indicações sobre “como” enfrentar esses desafios hodiernos da família na evangelização. Portanto, como o papa Francisco vem destacando em diversas ocasiões, a Igreja encontra-se num “caminho sinodal”, olhando com muita atenção e carinho para a família, desejando fazer o melhor por ela, pois ela é muito importante; e quer contar com uma reflexão e participação amplas da comunidade eclesial.
Na assembleia de outubro, a palavra será dada novamente aos “delegados” de cada Conferência Episcopal, eleitos para isso; o próprio Papa Francisco também convocará outros participantes, não eleitos, entre bispos, teólogos peritos, observadores de outras Igrejas e casais. A assembleia terá cerca de 300 participantes.
Das três grandes partes do Instrumentum laboris, a primeira é dedicada inteiramente à reflexão sobre os desafios que a realidade familiar enfrenta; o Relatório final da assembleia de 2013 é retomado e enriquecido com as respostas do questionário enviado a toda a Igreja. Consideram-se as mudanças culturais, antropológicas, sociais e econômicas do nosso tempo, que atingem em cheio a realidade familiar. Olha-se também para as situações familiares necessitadas de maior atenção, como a velhice, a viuvez, a infância e a juventude, as situações de dor e luto, a desabilidade e deficiência, as migrações... Mas também é lançado um olhar atento sobre a “explosão” atual da afetividade e sua relevância na vida familiar.
Na segunda parte, que bem corresponde ao “julgar”, trata-se da vocação da família, com a pergunta de fundo: o que Deus quer da família? Para quê criou o homem e a mulher? Como revelou Deus o seu desígnio de vida, amor e salvação por meio da família? Como Deus quis a família e o casamento? A reflexão também busca luzes e orientações na palavra da Igreja, que tem a missão de anunciar ao mundo a Boa Nova e de iluminar toda realidade com a luz da fé sobrenatural.
A missão da família é abordada na terceira parte do texto de trabalho. A família não é apenas “objeto” de cuidados e preocupações; ela tem uma grande e importante missão em relação às pessoas, à comunidade humana na qual está inserida e também em relação à vida eclesial. Nesta parte, aborda-se também a missão da própria Igreja em relação à família, em especial, diante das questões mais desafiadoras do mundo contemporâneo.
Durante a nova fase de preparação da assembleia do Sínodo, até outubro, toda a Igreja é convidada a rezar pelo bom êxito do Sínodo “da família”. E quem lá deve tomar parte, tem o tempo de se preparar, a partir do Instrumentum laboris, e de receber novas contribuições para a assembleia sinodal. Que o Espírito Santo conduza a Igreja e anime todas as famílias com sua divina inspiração.
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)
Publicado em O Estado de São Paulo
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