Em Curitiba, o então coordenador, Newton Pedroso, precisou prestar esclarecimentos sobre as ações do MFC Curitiba no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Contudo não chegar a ficar detido, pois conseguiu mostrar que os trabalhos MFCistas eram voltados para a Igreja.
A mesma sorte não teve o casal Sollero e Lya e sua filha Guida. Os três foram presos e torturados nos porões do DOI-CODI. Em depoimento ao especial "Ecos da Ditadura", Helio Amorim relatou o que presenciou durante o depoimento de Guida Sollero.
"Assisti ao seu depoimento perante uma junta de cinco oficiais militares e um juiz civil, sentados em mesa colocada num palco de auditório, para que a presa ficasse dois metros abaixo, ladeada por dois gigantescos policiais fardados, para completar o cenário de intimidação". Disse Amorim.
Em 1980, na missa de abertura do VIII Encontro Latinoamericano do MFC, em Porto Alegre, nas preces da comunidade, Sollero foi ao altar, relatou as torturas na filha e perdoou publicamente os torturadores. Pode-se imaginar o impacto desse ato e as lágrimas provocadas.
Cláudio e Lygia Campos, membros do MFC, tiveram seu filho Cláudio, médico, também do MFC, preso e estupidamente torturado a ponto de baixar na UTI do Hospital do Exército, no Rio, depois de forçado a beber grande quantidade de água salgada, com danos graves nos rins. Seus pais foram chamados para entrevista pessoal pelo comandante da repressão militar, general Sílvio Frota, que os alertou sobre o risco de vida do filho por moléstia anterior à prisão. Queixou-se do custo elevado do tratamento que o Exército Brasileiro estava despendendo para tentar salvá-lo. Fui ao hospital e monsenhor Trevisan, capelão militar, me relatou a verdade e a gravidade do caso. O jovem médico sobreviveu e meses depois foi absolvido de uma acusação irresponsável.
O MFC foi ainda perseguido com a prisão de Jorge Hue, presidente nacional do Movimento nos anos 60, e seu filho estudante. Fui à CNBB, ainda no Rio, relatei o fato interrompendo a reunião geral dos bispos que acontecia naquela manhã. D. Aloysio Lorscheider saiu do auditório, telefonou para o general Frota, aos berros e socando a própria mesa, exigindo a imediata liberdade de Jorge. Foi atendido pelo general, constrangido diante do discurso nada eclesiástico do presidente da CNBB. Mas seu filho continuou preso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário