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quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Correio MFC Brasil



O Papa Francisco se reuniu na manhã de 28 de outubro, na Aula do Sínodo com os participantes do Encontro Mundial dos Movimentos Populares, organizado pelo Pontifício Conselho Justiça e Paz em colaboração com a Pontifícia Academia das Ciências Sociais e com os líderes de vários movimentos.Encorajados pelo Papa Francisco a "construir uma Igreja pobre e para os pobres”, mais de 100 leigos, líderes de grupos sociais, 30 bispos engajados com as realidades e os movimentos sociais em seus países, e cerca de 50 agentes pastorais, além de alguns membros da Cúria romana, participaram deste Encontro, de 27 a 29 de outubro.
Papa convoca movimentos sociais de todo o mundo a combater causas estruturais da pobreza Adital

O Papa falou sobre o termo solidariedade, ''uma palavra que não cai bem sempre – afirmou – eu diria que, algumas vezes, transformamos em uma má palavra; mas é uma palavra muito mais além do que alguns atos de generosidade esporádicos.
É pensar e atuar em termos de comunidade, de prioridade de vida de todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns.
Também é lutar contra as causas estruturais da pobreza, da
Alba Movimientos
desigualdade, da falta de trabalho, da terra e da moradia, a negação dos direitos sociais e trabalhistas.
É enfrentar os destruidores efeitos do império do dinheiro: os deslocamentos forçados, as emigrações dolorosas, o tráfico de pessoas, a droga, a guerra, a violência e todas essas realidades que muitos de vocês sofrem e que todos estamos chamados a transformar. A solidariedade, entendida, em seu sentido mais amplo, é um modo de fazer história e isso é o que fazem os movimentos populares''.
Também lembrou que o Encontro não responde a uma ideologia, já que os movimentos não trabalham com ideias, mas com realidades. ''Não se pode abordar o escândalo da pobreza promovendo estratégias de contenção que, unicamente, tranquilizem e convertam os pobres em seres domesticados e inofensivos” – continuou.
“Esse encontro nosso responde a um anseio muito concreto, algo que qualquer pai, qualquer mãe quer para seus filhos; um anseio que deve estar ao alcance de todos, mas, hoje, vemos, com tristeza, cada vez mais longe da maioria: terra, teto e trabalho. É estranho, mas se falo disso para alguns significa que o Papa é comunista''.
''Hoje, ao fenômeno da exploração e da opressão se soma uma nova dimensão, um matiz gráfico e duro da injustiça social; os que não podem ser integrados, os excluídos são dejetos, restos? Esta é a cultura do descarte... Isso acontece quando no centro de um sistema econômico está o deus dinheiro e não o homem, a pessoa humana. No centro de todo sistema social ou econômico tem que estar a pessoa, imagem de Deus, criada para que fosse o dominador do universo. Quando a pessoa é deslocada e vem o deus dinheiro ocorre essa inversão de valores''.
1134 Fatores Que Influenciam o Desemprego – PARTE 5
Francisco mencionou o problema do desemprego e acrescentou que ''todo trabalhador, esteja ou não esteja no sistema formal de trabalho assalariado, tem direito a uma remuneração digna, a seguridade social e a uma cobertura previdenciária. Há catadores, recicladores, vendedores ambulantes, costureiros, artesãos, pescadores, camponeses, pedreiros, mineiros, operários de empresas recuperadas, todo tipo de cooperativistas e trabalhadores de ofícios populares que estão excluídos dos direitos
trabalhistas, que lhes tem negada a possibilidade de se sindicalizarem, que não têm uma renda adequada e estável. Hoje, quero unir minha voz à suas e acompanhá-los em sua luta''.
O Pontífice também mencionou o tema da paz e da ecologia. ''Não pode haver terra, não pode haver teto, não pode haver trabalho se não temos paz e se destruímos o planeta... a criação não é uma propriedade, da qual podemos dispor a nosso bel prazer; nem muito menos é uma propriedade só de alguns, de poucos: a criação é um dom, é um presente, um dom maravilhoso que Deus nos deu para que cuidemos dele e o utilizemos em benefício de todos, sempre com respeito e gratidão''.
''Mas por que em vez disso nos acostumamos a ver como se destrói o trabalho digno, se despejam tantas famílias, se expulsam os camponeses, se faz a guerra e se abusa da natureza? Porque nesse sistema se tirou o homem, a pessoa humana, do centro, e o substituíram por outra coisa! Porque se rende um culto idolátrico ao dinheiro! Porque se globalizou a indiferença! – ‘para mim, só importa o que acontece com os outros desde que eu defenda o meu’. Porque o mundo se esqueceu de Deus, que é Pai; se tornou órfão porque deixou a Deus de lado''.

 

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O pavor dos abastados: a desigualdade e a taxação das riquezas

Leonardo Boff 25/05/2014
Está causando furor entre os leitores de assuntos econômicos, economistas e principalmente pânico entre os muito ricos um livro de 700 páginas escrito em 2013 e publicado em muitos países em 2014. Transformou-se num verdadeiro best-seller. Trata-se de uma obra de investigação, cobrindo 250 anos, de um dos mais jovens (43 anos) e brilhantes economistas franceses, Thomas Piketty. O livro se intitula O capital no século XXI (Seuil, Paris 2013). Aborda fundamentalmente a relação de desigualdade social produzida por heranças, rendas e principalmente pelo processo de acumulação capitalista, tendo como material de análise particularmente a Europa e os USA.
A tese de base que sustenta é: a desigualdade não é acidental mas o traço característico do capitalismo. Se a desigualdade persistir e aumentar, a ordem democrática estará fortemente ameaçada. Desde 1960, o comparecimento dos eleitores nos USA diminuiu de 64% (1960) para pouco mais de 50% (1996), embora tenha aumentado ultimamente. Tal fato deixa perceber que é uma democracia mais formal que real.
Esta tese sempre sustentada pelos melhores analistas sociais e repetida muitas vezes pelo autor destas linhas, se confirma: democracia e capitalismo não convivem. E se ela se instaura dentro da ordem capitalista, assume formas distorcidas e até traços de farsa. Onde ela entra, estabelece imediatamente relações de desigualdade que, no dialeto da ética, significa relações de exploração e de injustiça.
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Favelas e bairros ricos disputam a paisagem
A democracia tem por pressuposto básico a igualdade de direitos dos cidadãos e o combate aos privilégios. Quando a igualdade é ferida, abre-se espaço para o conflito de classes, a criação de elites privilegiadas, a subordinação de grupos, a corrupção, fenômenos visíveis em nossas democracias de baixíssima intensidade.
Piketty vê nos USA e na GranBretanha, onde o capitalismo é triunfante, os países mais desiguais, o que é atestado também por um dos maiores especialistas em desigualdade Richard Wilkinson. Nos USA executivos ganham 331 vezes mais que um trabalhador médio. Eric Hobsbown, numa de suas últimas intervenções antes de sua morte, diz claramente que a economia política ocidental do neoliberalismo “subordinou propositalmente o bem-estar e a justiça social à tirania do PIB, o maior crescimento econômico possível, deliberadamente inequalitário”.
Em termos globais, citemos o corajoso documento da Oxfam Intermón, enviado aos opulentos empresários e banqueiros reunidos em Davos neste ano como conclusão de seu “Relatório Governar para as Elites, Sequestro democrático e Desigualdade econômica”:
85 ricos têm dinheiro igual a 3,57 bilhões de pobres do mundo.
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A erradicação da pobreza avança mas ainda é lenta
O discurso ideológico aventado por esses plutocratas é que tal riqueza é fruto de ativos, de heranças e da meritocracia; as fortunas são conquistas merecidas, como recompensa pelos bons serviços prestados. Ofendem-se quando são apontados como o 1% de ricos contra os 99% dos demais cidadãos, pois se imaginam os grandes geradores de emprego.
Os prêmios Nobel J. Stiglitz e P. Krugman tem mostrado que o dinheiro que receberam do Governo para salvarem seus bancos e empresas mal foram empregados na geração de empregos. Entraram logo na ciranda financeira mundial que rende sempre muito mais sem precisar trabalhar. E ainda há 21 trilhões de dólares nos paraísos fiscais de 91 mil pessoas.
Como é possível estabelecer relações mínimas de equidade, de participação, de cooperação e de real democracia quando se revelam estas excrecências humanas que se fazem surdas aos gritos que sobem da Terra e cegas sobre as chagas de milhões de co-semelhantes?
Voltemos à situação da desigualdade no Brasil. Orienta-nos o nosso melhor especialista na área, Márcio Pochmann (veja também Atlas da exclusão social – os ricos no Brasil,Cortez, 2004): 20 mil famílias vivem da aplicação de suas riquezas no circuito da financeirização, portanto, ganham através da especulação.

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Hospitais para ricos...
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... e para pobres
Continua Poschmann: os 10% mais ricos da população impõem, historicamente, a ditadura da concentração, pois chegam a responder por quase 75% de toda riqueza nacional. Enquanto os 90% mais pobres ficam com apenas 25%” (Le Monde Diplomatique, outubro 2007). Segundo dados de organismos econômicos da ONU de 2005, o Brasil era o oitavo país mais desigual do mundo.

Mas graças às políticas sociais dos últimos dois governos, diga-se honrosamente, o índice de Geni (que mede as desigualdades) passou de 0,58 para 0,52. Em outras palavras, a desigualdade que continua enorme, caiu 17%.
Piketty não vê caminho mais curto para diminuir as desigualdades do que a severa intervenção do Estado e da taxação progressiva da riqueza, até 80%, o que apavora os super ricos. Sábias são as palavras de Eric Hobsbawn: “O objetivo da economia não é o ganho mas sim o bem-estar de toda a população; o crescimento econômico não é um fim em si mesmo, mas um meio para dar vida a sociedades boas, humanas e justas”.
E como um gran finale a frase de Robert F. Kennedy: “O PIB inclui tudo; exceto o que faz a vida valer a pena.”


Frases para nos fazer pensar


“O verdadeiro cristianismo rejeita a ideia de que uns nascem pobres e outros ricos, e que os pobres devem atribuir a sua pobreza à vontade de Deus.”  Helder Câmara


“Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que eles são pobres, chamam-me de comunista.”   Dom Hélder Câmara

“Conheço muitas razões pelas quais eu morreria, mas não conheço nenhuma pela qual eu mataria.” Mahatma Gandhi

“A maneira de ajudar os outros é provar-lhes que eles são capazes de pensar.”  Dom Hélder Câmara


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