“A fome é criminosa!”
(Do discurso do papa Francisco aos participantes do Encontro Mundial de Movimentos Populares no Vaticano)
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Oremos.
Que a Paz proclamada no Natal seja verdadeiramente conquistada no mundo e permaneça em cada dia de nossas vidas.
Amém
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A criatividade é a dinâmica do próprio universo. Seu estado natural não é a estabilidade mas a mutação criativa. Tudo é fruto da criatividade natural ou humana.
A Terra é fruto de uma Energia criadora, misteriosa e carregada de propósito que atua já há 13,7 bilhões de anos.
Um dia, um peixe primitivo, "decidiu”, num ato criador, deixar a água e explorar a terra firme. Desse ato criativo, vieram os anfíbios, em seguida os répteis, depois os dinossauros, as aves, os mamíferos e por fim os seres humanos, portadores de consciência e de inteligência.
Se não estivéssemos sob a ação desta criatividade, nunca teríamos chegado até aqui. Detenhamo-nos, por um momento, num tipo de criatividade, aquela na relação homem-mulher, ponto central nas discussões atuais na Igreja que se propôs debater as questões da família e da sexualidade.
Mais e mais homens e mulheres são definidos não a partir de seu sexo biológico ou fator cultural, mas a partir do fato de serem pessoas. Entendemos aqui por pessoa todo aquele ou aquela que se sente dono de si e que exercita a liberdade para plasmar sua própria vida. A capacidade de autoprodução em liberdade (autopoiesis) é a suprema dignidade do ser humano que não deve ser negada a ninguém.
Depois do reconhecimento da pessoa como pessoa, decisivos são os valores da cooperaçãoe da democracia como valor universal no sentido da participação na vida social, da qual as mulheres historicamente foram alijadas.
A ausência desses valores ajudou a consolidar a dominação e a subordinação histórica das mulheres. Hoje é pela cooperação de ambos, numa ética da solidariedade e do cuidado mútuos, que se construirão relações inclusivas e igualitárias.
A cooperação supõe confiança e respeito mútuo numa atmosfera onde a coexistência se funda no amor, na proximidade, no diálogo aberto como tem insistido e mostrado o Papa Francisco.
Bem enfatizava o grande biólogo chileno Humberto Maturana: a permanência do patriarcalismo e do machismo representa a tentativa de regressão a um estágio pré-humano que nos remete ao nível dos chimpanzés, societários mas dominadores.
Por isso que a luta pela superação do patriarcalismo é uma luta pelo resgate de nossa verdadeira humanidade. Mulheres pelo fato de serem mulheres, ainda hoje, mesmo nos países ricos, recebem menor salário fazendo o mesmo trabalho. E elas compõem mais da metade da humanidade.
A democracia participativa e sem fim, fundamentalmente, quer dizer participação, sentido do direito e do dever e senso de corresponsabilidade. Antes de ser uma forma de organização do Estado, a democracia é um valor a ser vivido sempre e em todo o lugar onde seres humanos se encontram. Essa democracia não se restringe apenas aos humanos mas se abre aos demais seres vivos da comunidade biótica, pois se reconhece neles um valor intrínseco e por isso direitos e dignidade. A democracia integral possui, pois, uma característica sócio-cósmica..
A superação da ancestral guerra dos sexos e das políticas opressivas e repressivas contra a mulher se dá na mesma proporção em que se introduz e se pratica a democracia real e cotidiana. Foi em nome desta bandeira que a grande escritora e feminista Virgínia Wolff (1882-1941) podia proclamar: "Com mulher não tenho pátria, como mulher não quero pátria, como mulher minha pátria é o mundo inteiro”.
A luta contra o patriarcado supõe um reengendramento do homem. Seguramente nessa tarefa ele não conseguiria dar o salto de qualidade sozinho e por si mesmo. Daí ser importante a presença da mulher ao seu lado. Ela poderá evocar nos homens o feminino escondido sob cinzas seculares (o cuidado, a cooperação, o poder como serviço, etc.). Ela poderá ser co-parteira de uma nova relação humanizadora.
O primeiro a se fazer é privilegiar os laços de interação mútua e a cooperação igualitária entre homem e mulher. Aqui se impõe um processo pedagógico na linha de Paulo Freire: ninguém liberta ninguém, mas juntos, homens e mulheres, se libertarão num exercício partilhado de liberdade criadora. A partir deste novo contexto devem-se recuperar aqueles valores considerados antigos e próprios da socialização feminina, mas que agora devem ser gritados aos ouvidos dos homens e junto com as mulheres procurar vivê-los.
Trata-se de um ideal humanitário para ambos. Permito-me resgatar alguns:
- As pessoas são mais importantes que as coisas. Cada pessoa deve ser tratada humanamente e com respeito.
- A violência jamais é um caminho aceitável para a solução dos problemas.
- É melhor ajudar do que explorar as pessoas, dando atenção especial aos pobres, aos excluídos e às crianças.
- A cooperação, a parceria e a partilha são preferíveis à concorrência, à autoafirmação e ao conflito.
- Nas decisões que afetam a todos, cada pessoa tem o direito de dizer a sua palavra e ajudar na decisão coletiva.
- Estar profundamente convencido de que o certo está do lado da justiça, da solidariedade e do amor e de que a dominação, a exploração e a opressão estão do lado do errado.
*Leonardo Boff escreveu com Rose-Marie Muraro Feminino-masculino: uma nova consciência para o encontro das diferenças, Record 2002,]
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Só haverá um professor se um aluno assim o reconhecer, e um pai, se houver um filho. Já dizia Sartre: “O outro guarda um segredo: a minha identidade”. E Maturana afirma que o conhecimento é um presente do outro. Somos quem somos porque alguém assim nos reconhece.
Família, espaço privilegiado de formação
Deonira L Viganó La Rosa
Terapeuta de Casal e de Família. Mestre em Psicologia.
Com frequência, falamos como se a identidade de alguém fosse uma propriedade permanente e estrutural. Mas não, a identidade resulta de uma dinâmica relacional. As características de um organismo qualquer resultam de uma história de interações... Por isso a identidade de cada um de nós nunca está completa, constrói-se durante uma vida. O verbo “individuar” é extremamente rico em sentido.
Todos nos tornamos humanos no convívio com outros humanos. É dentro de uma rede social que construímos a imagem que temos de nós mesmos.
Mas qual é o “outro” por excelência, quais são estes “outros” que vêm em primeiro lugar e com os quais nos relacionamos desde nossa concepção? Com certeza nossa mãe, nosso pai, nossos irmãos e familiares. Em uma palavra, é a Família, seja ela qual for, o primeiro espaço, o primeiro ambiente onde vamos dar início à formação de nossa identidade e do cidadão que seremos no futuro. A família é o espaço indispensável para nossa saúde física, psicológica e mental.Cabe à família, ainda que esteja em constante transformação, tornar humano cada membro que nasce. Tornar este humano um cidadão consciente, ético e responsável.
A família ainda é, e nunca deixará de ser, o lugar privilegiado de crescimento, desenvolvimento de valores, afetos e emoções responsáveis por estruturar os indivíduos e, por fim, a sociedade. E esta proposta é mais séria do que se pensa.
Um importante pré-requisito para o casamento é que homem e mulher tenham um grau de maturidade emocional, pelo menos suficiente, para uma convivência saudável, capaz de administrar conflitos com o menor estresse possível.
Pais preparados sabem ainda que a função normativa da família pede-lhes que estabeleçam limites aos filhos, e que a função educadora lhes exige que proporcionem aos filhos a vivência de valores éticos, religiosos e culturais. Pais responsáveis não abrem mão desta missão.
Não há como entender e administrar as complexas relações que permeiam a família, sem conhecimento, sem maturidade emocional e capacidade de troca, sem empenhar seu tempo com os filhos. Sem preparo.
Dificuldades sempre aparecerão. Convém pensar as relações familiares não tão somente da ótica da moral imperante, mas também dos sofrimentos subjacentes a ela. Um modelo familiar utópico jamais pode ser um fator de discriminação de alguma família. Tampouco pode levar-nos a negar seus conflitos e dificuldades para poder apresentá-la mais parecida a um “modelo idealizado” de família.
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