Uma juventude consciente de seu papel transformador. Que busque solidificar sua vida na união conjunta das forças. Jovens autênticos que anunciem um mundo justo, alimentado pelas utopias do pão partilhado.
Entretanto, o jovem autêntico sabe que não será nada fácil caminhar na corda bamba do caldeirão diário do mundo. Assim também como exigente será reagir com o olhar profundo diante das superfícies. Ousar o risco da existência autêntica na travessia do rio caudaloso. Ser mais. Estar a serviço do bem. Não temer a morte.
Jovens que lutam por uma causa não podem se contentar com verdades prontas, inquestionáveis. Tudo precisa ser pensado com a criticidade que enxerga em perspectiva a parede de pedras que se apresenta em frente. O mundo precisa ser recriado pela visão autêntica da crítica e ser debatido em espaço de comunidade.
Os jovens questionadores são aqueles que se encontram em comunidade para pensarem soluções plausíveis para o mundo atual. Diante das inúmeras armadilhas, eles rompem com o silêncio submisso e amedrontado, não se contentando com a versão ideológica da mídia capitalista que vende a imagem de um mundo pronto, único, ideal do mercado materialista, consumista e individualista.
O medo diante dos desafios em nada contribui, pois não avança a jornada. Para superar essa barreira, a juventude precisa abastecer-se no alicerce do conhecimento filosófico. Ele amplia os horizontes, pois busca os fundamentos da vida política. Abastecer a prática, para que ela se torne um dia “práxis”. Isso acontece com o olhar atento à leitura de textos críticos, de filmes com conteúdo filosófico e no engajamento político nos movimentos sociais, culturais e religiosos, que tenham o olhar conjunto – não dicotomizado - entre “leitura de texto e leitura de mundo” (ver Paulo Freire).
Um jovem autêntico não foge do debate político. Ele sabe que o crescimento na comunidade exige o confronto ideológico. Um grupo que tende para a unanimidade cai mais cedo ou mais tarde na inclinação para a uniformidade, condição indispensável para a ruína de qualquer grupo. Somente pela crítica amadurecemos. Quem não está preparado para o embate dialético dificilmente amadurece em grupo.
Com as diferenças e divergências ínsitas ao debate, o jovem amadurece, e compreende a importância da troca de experiências. Ele passa a questionar a si mesmo, enquanto agente de transformação social. Ele revê constantemente seu modo de ser e de pensar em grupo, tornando-se desse modo mais atento diante de seu protagonismo.
Não é possível mais aceitar receitas e convenções pelo simples fato de estarem aí. Uma norma não deve ser cumprida se ela impedir a permanência da liberdade dos sujeitos históricos em comunidade. Uma lei injusta precisa ser desobedecida, como nos ensina Mahatma Gandhi e Martin Luther King Jr.
Assim cresce a liderança da juventude que questiona com argumentos sólidos, não por que acha que simplesmente deve ser de outro modo, mas por que compreende que há outras razões mais amplas e plausíveis para tanto. Ela sabe por isso que o mundo não está bom, mas que é preciso saber o porquê disso e como fazer para sair dessa condição dada.
Uma juventude questionadora é, portanto, uma porta que se abre para os movimentos sociais de base. Ela não se contenta com o mal, e por isso aponta para a liberdade, que não se sacia com o diagnóstico da maldade. Uma juventude que faz e refaz o seu protagonismo atuante no mundo não se contenta com as injustiças, proclamando novos tempos a partir de seu ardor profético no tempo de agora.
Uma voz que não se cala, pois questiona ao mundo e a si mesma a cada passo dado, a cada fracasso, a cada crescimento conjunto. Uma voz que não se alheia ao mundo, ao contrário, está presente no mundo, de dentro da realidade do mundo, sem fazer-se prisioneira dos ditames da morte e da escravidão mental. Uma juventude que clama e proclama o reinado da paz, fruto da justiça.
Jorge Leão
Coordenador Senjov/MFC
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