Contato

Ajude-nos a atualizar este espaço. Mande as suas sugestões para luiz.monteiro@mfccuritiba.com.br

terça-feira, 5 de agosto de 2014

A vida é muito breve pra ser curta...

O que nos inspira a seguir no tempo? Onde encontrar força para continuar nas curvas do tempo? De fato, um movimento constante e inquietante, diante da frenética perda de energias, em que nos encontramos atualmente e que, ao a que tudo indica, caminha sem rumo, em tempos de pouco tempo para coisas que levam tempo, como amor, amizade, sabedoria. Se o pressuposto, porém, for ocarpe diem, isto é, “aproveitar o dia em sua inteireza”, então nos deparamos com o tema da gratuidade do belo. Perceber o traço do que não perece no que já perece, quando experiências de perdas caminham em passos largos, pode indicar o contraponto a este modelo hegemônico de mundo.

Mas, a que mundo estamos nos referindo? Falamos a partir de qual modelo de mundo? O mundo dos programas de tempo informativos? O mundo do controle informacional? O mundo da ausência de sentido na vida, uma vez que hoje tudo perde sua “alma”, isto é, qualquer possibilidade de um traço de algo duradouro? Mesmo sabendo da escala de poder que emerge da pressão cotidiana no tempo, daquilo que é produzido para em seguida ser descartado, devemos levantar uma questão que pode suscitar algum contraponto: a vida é muito breve pra ser desperdiçada no superficial da intermitência cotidiana. 

Dentro deste mecanismo, o medo ou ansiedade aumentam quando o tempo passa de modo a abreviar o prazer e aumentar a dor. Os dias parecem alargados pela imagem psicológica da tormenta interior, que se desmancha por uma decepção, fracasso ou desarranjo intestinal. Frequentemente silenciamos sobre coisas desse tipo. Em grande parte das vezes, preferimos continuar no supérfluo da rotineira repetição das mesmas coisas previsíveis de outrora. E o tempo vai passando. E as cobranças aumentando...

Repetimos a roupa para não sair da moda. Entramos na moda pra não sair perdendo no vai e vem da tão propalada exigência de ser aceito pela massa. O tempo se delimita a consumir matéria corroída pelo desmanche no efêmero. Entramos num jogo desconhecido, onde a aposta de que “pode dar certo no fim” assume o lugar da confiança no outro, alimentada por laços profundos de amizade.

Encurtamos o almoço. Encurtamos as palavras. Não há mais tempo para cartas. Falamos por msn. O tempo é papel de troca. O corpo é moeda rentável nas bolsas de valores.  Alma cabe dentro doself. A importância do que se aproveita em curtos intervalos de tempo é a medida de valor das relações de poder em demanda no mercado. Como a velocidade da troca não dá conta do olhar desnorteado do outro, é comum associar encontros de amizade com bate-papo virtual. Alguns resistem ao frequente ataque dos sedutores programas feitos pra durar o mínimo necessário. Outros decidem mergulhar de vez no controle matricial dos sofisticados softwares de última geração. Muitos milhares de outros não conseguem nem ao menos perceber a própria ruína do mecanismo de obsolescências em que estão cotidianamente inseridos.

Neste glamour de controles descontrolados, surge o incômodo problema: como passamos pela vida? Uma pergunta com graves implicações existenciais. Diante do tempo submetido ao domínio das máquinas, resta alguma força de resistência contra-matricial via filosofia, arte ou valores éticos?

De fato, muito de nosso esforço intelectual recai sobre a questão de como frear o desperdício de energia física e psíquica em termos de consumo de obsolescências. No entanto, diante dos atrativos efeitos midiáticos, talvez a estratégia não fosse medir forças com a eficiência dos fortuitos discursos on linena rede, mas possibilitar o encontro com os peixes em seu próprio habitat, isto é, translocar o informacional imediatista para o comunicacional dialógico. Isso, claro, vai exigir de nós tempo, paciência, caminhada.  Outro tempo...

Assim, quem sabe, possamos indicar caminhos de alternância para o tempo encurtado dos lugares em que pessoas não se encontram como interconexão, pois na rapidez do chat pouca coisa pode ser sorvida de modo a gerar laços de comunicabilidade. Tal condição exigiria de nós alteração no modo de perceber o tempo, não mais mecanizado, pois agora livre da robotização dos encontros efêmeros em nossos grupos de virtuais imagens projetadas na tela de uma máquina também pré-programada.

Jorge Leão 
Senjov/MFC

Nenhum comentário:

Postar um comentário