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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Correio MFC Brasil

EDITORIAL
Transição complicada como esperado

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Nomeações  ministeriais surpreendentes para atender parcerias pouco consistentes. Mais tortuosas, como já é tradição, são as centenas de nomeações para o segundo e terceiro escalões da república federativa, adjetivo que aponta para um universo de demandas de cargos federais por governadores e até prefeitos que amam as suas famílias, nas quais, asseguram, se
escondem modestamente personagens anônimos de excepcional talento para funções públicas.
Há também compromissos de campanha a levar em conta para retribuir a generosidade espontânea e desinteressada dos apoiadores. São amigos do peito e parentes talentosos que pleiteiam quatro anos de dedicação patriótica nos cargos em disputa. Dispõem de cacifes que consideram decisivos para o bom desempenho do governo reeleito, agradecido este pela inegável fidelidade dos parceiros, agora, candidatos a um quadriênio de poderes ou funções para os quais esbanjam talentos e currículos raros. Se tão especiais qualificações de seus postulantes não forem levadas em conta... não contem com apoios futuros porque “estou até aqui de mágoa, ... pode ser a gota d’água”...
Ora, os cargos nesses escalões operativos são estratégicos, de confiança, reservados a funcionários reconhecidamente honestos, de comprovada disposição e experiência para o trabalho, conhecedores das engrenagens que movem pessoas e ferramentas disponíveis em cada espaço em que devem atuar, contando com o apoio e fidelidade de seus colegas, independentemente de suas opções políticas ou compromissos partidários.
Desmontar esse quebra-cabeças exige talento e madura personalidade da presidente e ministros. Este é o momento propício, um kayrós a ser aproveitado nestas semanas iniciais da nova gestão, para uma mudança corajosa de paradigmas tradicionais. (H. A.)


Um depoimento passados 50 anos
Meu 1º de abril de 1964
Frei Betto e o Golpe de 64
Na data do golpe militar, eu participava em Belém (PA) do congresso latinoamericano de estudantes. Nunca havia vivido um golpe e, muito menos, uma ditadura. Meu pai, no entanto, sofrera sob o Estado Novo de Vargas, padecera prisão, e se vira obrigado a deixar o Rio e retornar a Minas ao assinar o Manifesto dos Mineiros.
Na capital paraense as notícias chegavam confusas e difusas. Pelas ruas, viaturas militares. Lideranças estudantis de outros países do Continente, já acostumadas a quarteladas, preferiram dissolver o congresso. Foi o salve-se quem puder...
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Como membro da direção nacional da Ação Católica, eu estava hospedado na residência do arcebispo Dom Alberto Ramos, a convite de seu bispo auxiliar, Dom Milton Pereira. Este era progressista; o outro, conservador.
Na noite do 1º de abril, vi na TV o arcebispo dar loas à Virgem de Nazaré por livrar o Brasil do comunismo, e sugerir que entre seu
clero havia quem sofresse influência marxista... Dom Milton aconselhou-me buscar refúgio fora dali. Fui para a casa de Lauro Cordeiro, militante da JEC (Juventude Estudantil Católica). Ali, de ouvidos colados ao rádio, tentávamos avaliar o que ocorria no Sudeste do país. Jango fora deposto e buscara exílio no Uruguai.
Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados, assumira a presidência da República sob tutela dos militares. Estes impunham novas eleições presidenciais a 11 de abril, pelo voto apenas de membros do Congresso Nacional que ainda não haviam sido cassados.
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Mas... cadê a resistência de toda aquela multidão que aplaudira Jango no megacomício de 13 de março, no Rio? E a militância do Partidão, onde se enfiara? A esquerda não bradava ser capaz de mobilizar milhares de trabalhadores em caso de ameaça de golpe? Por que as tropas comandadas pelo general Olímpio Mourão Filho vieram de Minas ao Rio sem se deparar com nenhum empecilho?
Nossos sonhos libertários se derretiam como os saborosos sorvetes da Tip Top, a mais famosa sorveteria da capital paraense. Após nove dias esperando a poeira baixar, decidi retornar ao Rio, onde morava.
Minha passagem aérea tinha sido cedida por Betinho, então chefe de gabinete do ministro da Educação, Paulo de Tarso dos Santos. Deparei-me com a agência da Varig repleta de pessoas afoitas por viajarem. Ao ser atendido, fui informado de que "estão canceladas todas as passagens de cortesia emitidas pelo governo anterior”. Sem dinheiro, me senti desamparado.
Na capa da passagem (outrora os bilhetes aéreos vinham encadernados) havia o carimbo de "Cancelado”. Rasguei a capa e estendi-a ao funcionário que avisava não ter mais assento vago em voos diretos para o Rio, a menos que o passageiro fizesse escala no Recife. Consegui embarcar.
dom helder câmara 02
Cheguei à capital pernambucana a 10 de abril, dia da posse de Dom Helder Câmara como arcebispo de Olinda e Recife. Ele havia sido o responsável pela minha transferência de Minas para o Rio e cuidava da manutenção do apartamento das direções da JEC e da JUC (Juventude Universitária Católica).
Talvez por captar minha aflição, Dom Helder, após a missa de
posse, deixou a recepção por alguns minutos para ouvir o relato do que eu presenciara em Belém. Em seguida, embarquei para o Rio, tomando assento ao lado de Dom Cândido Padin, bispo auxiliar do Rio e assessor nacional da Ação Católica.
Ao aterrissar no aeroporto Santos Dumont, o piloto avisou que todos deveriam permanecer a bordo, pois a Polícia Federal entraria para conferir a identidade de cada passageiro. Passei a Dom Padin todos os documentos do congresso de estudantes, temendo que fossem considerados subversivos. Ele os escondeu dentro do hábito beneditino.
Ao ingressar na aeronave, os policiais avistaram a figura episcopal: "O bispo pode desembarcar”, disseram. Todos os demais fomos identificados e revistados. Desembarquei ileso.
Na madrugada de 5 para 6 de junho de 1964, o apartamento da direção da Ação Católica foi invadido por agentes do CENIMAR (Centro de Informações da Marinha). Fomos todos arrastados para o Comando Naval, no centro do Rio, e depois encarcerados no quartel dos fuzileiros navais, na Ilha das Cobras.
A ditadura me atingira na pele, pela primeira vez, para mais tarde me prender por quatro anos (1969-1973) e cassar por dez meus direitos políticos.
Frei Betto é escritor, autor de "Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” (Rocco), entre outros livros.

O amor nos toca a alma
Jorge Leão*
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É o único termômetro capaz de medir a temperatura do coração. Ao iniciar a sua jornada, ele nos convida ao toque mais sutil que podemos receber: a entrega gratuita.
Não incita à culpa, muito menos ao abandono. É aconchegante o seu ritmo, e suave o seu olhar. Quem se nutre com o tempero do amor, sabe que a vida não passa em vão. Todo mínimo movimento faz sentido, pois penetra fundo no vazio deixado pela noite mal dormida.
Como nos traços do artista, sua tela se renova a cada contorno. Sente-se bem por partilhar os momentos simples da vida: um abraço, uma palavra oportuna, um aperto de mão. Procura sintonia na melodia do silêncio, e confessa sua chegada como um beija-flor, discreto e belo.
Nada o afasta de seus sonhos. Alimenta-se com o néctar das flores do tempo. Sabe que precisa acalmar a tempestade do vazio deixado pela inconstância das marés. A todo momento permanece atento aos tormentos das enchentes, e sabe o momento de recuar para dar vazão à solitude.
Percebe-se aprendiz na escalada da vida e da morte. Encontra seu deleite no dar-se incondicional. Não receia esquecimento, pois sabe que a memória lembra o que desde o começo é eterno.
Ele toca a alma, e por isso nos conecta com a morada do que não pode caber em nenhum espaço. Pois morar é ser, e ser é um modo de respirar. Conforme a tua respiração, lá é a tua morada.
Rever o toque a cada dia é também aprender novamente a amar. E amar é não perder a magia da reconquista. Quem se permite rever seus passos, anda com mais serenidade na estrada da vida. Não há fim para quem inicia novos caminhos.
Há no reino do amor apenas uma perda: a entrega. Mas, quando se entrega por amor, nada se perde, pois a dádiva do amor é tocar o outro sem esperar retribuição. Por isso, a entrega amorosa, na verdade, não significa perda alguma. A não ser que chamemos de amor alguma coisa que precisa ser recompensada, o que já não seria mais amor.
Amar é, portanto, tocar além da medida. É andar com segurança sem precisar dizer que chegou. Amar é segredar ao outro o que mora no espaço da entrega. Amar é entregar o tesouro da alma, que não se mede, não se possui, apenas se dá, sem nada pedir em troca. Amar é sorrir com os lábios de Deus.
*Professor de Filosofia, MFC São Luiz – MFC

Frases para ler e guardar

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Quando vires um homem bom, tenta imitá-lo; quando vires um homem mau, examina-te a ti mesmo.
Tente mover o mundo - o primeiro passo será mover a si mesmo.
Para ver muita coisa é preciso despregar os olhos de si mesmo
Tente mover o mundo - o primeiro passo será mover a si mesmo.
Mesmo desacreditado e ignorado por todos, não posso desistir, pois para mim, vencer é nunca desistir.
Para ver muita coisa é preciso despregar os olhos de si mesmo
Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta.
Há uma inocência na admiração: é a daquele a quem ainda não passou pela cabeça que também ele poderia um dia ser admirado.
A alegria que se tem em pensar e aprender faz-nos pensar e aprender ainda mais.

domingo, 25 de janeiro de 2015

Liturgia do 3º Domingo do Tempo Comum - 25/01/2015



 
3º DOMINGO DO TEMPO COMUM





PRIMEIRA LEITURA (Jn 3,1-5.10)


Leitura da Profecia de Jonas:
1A palavra do Senhor foi dirigida a Jonas, pela segunda vez:

2“Levanta-te e põe-te a caminho da grande cidade de Nínive e anuncia-lhe a mensagem que eu te vou confiar”.

3Jonas pôs-se a caminho de Nínive, conforme a ordem do Senhor. Ora, Nínive era uma cidade muito grande; eram necessários três dias para ser atravessada.

4Jonas entrou na cidade, percorrendo o caminho de um dia; pregava ao povo dizendo: “Ainda quarenta dias, e Nínive será destruída”.

5Os ninivitas acreditaram em Deus; aceitaram fazer jejum, e vestiram sacos, desde o superior ao inferior.

10Vendo Deus as suas obras de conversão e que os ninivitas se afastavam do mau caminho, compadeceu-se e suspendeu o mal que tinha ameaçado fazer-lhes, e não o fez.

— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus!


RESPONSÓRIO (Sl 24)


— Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos,/ vossa verdade me oriente e me conduza!

— Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos,/ e fazei-me conhecer a vossa estrada!/ Vossa verdade me oriente e me conduza,/ porque sois o Deus da minha salvação.

— Recordai, Senhor meu Deus, vossa ternura/ e a vossa compaixão que são eternas!/ De mim lembrai-vos, porque sois misericórdia/ e sois bondade sem limites, ó Senhor!

— O Senhor é piedade e retidão,/ e reconduz ao bom caminho os pecadores./ Ele dirige os humildes na justiça,/ e aos pobres ele ensina o seu caminho.


SEGUNDA LEITURA (1Cor 7,29-31)


Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios:
29Eu digo, irmãos: o tempo está abreviado. Então que, doravante, os que têm mulher vivam como se não tivessem mulher; 30e os que choram, como se não chorassem, e os que estão alegres, como se não estivessem alegres; e os que fazem compras, como se não possuíssem coisa alguma; 31e os que usam do mundo, como se dele não estivessem gozando. Pois a figura deste mundo passa.

— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus!


EVANGELHO (Mc 1,14-20)


— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo, † segundo Marcos.
— Glória a vós, Senhor!

14Depois que João Batista foi preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: 15“O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!”

16E, passando à beira do mar da Galileia, Jesus viu Simão e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores.

17Jesus lhes disse: “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens”.

18E eles, deixando imediatamente as redes, seguiram a Jesus.

19Caminhando mais um pouco, viu também Tiago e João, filhos de Zebedeu. Estavam na barca, consertando as redes;20e logo os chamou. Eles deixaram seu pai Zebedeu na barca com os empregados, e partiram, seguindo Jesus.

Palavra da Salvação.
Glória a vós, Senhor!


HOMILIA
Dom Sergio da Rocha
Arcebispo de Brasília


Nos domingos do Tempo Comum, a cada ano, a Igreja proclama um dos três Evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). Neste ano, temos a oportunidade de ler e meditar, com a Igreja, o Evangelho segundo Marcos. O texto, hoje proclamado (Mc 1,14-20), nos apresenta os inícios da pregação de Jesus, anunciando a chegada do Reino. “O tempo já se completou!”.  Por isso, como resposta a essa boa nova, todos são chamados a crer e a converter-se. A fé e a conversão andam juntas. 

 Na primeira leitura, a brevidade do tempo é ressaltada, conforme a expressão “dentro de quarenta dias”, empregada por Jonas (Jn 1,4). O povo de Nínive, cidade que muitos consideravam condenada por seus pecados, se converte e faz penitência diante da pregação do profeta Jonas, obtendo, assim, o perdão de Deus. Nesta perspectiva de urgência, colocam-se também as palavras de São Paulo, afirmando que “o tempo está abreviado” (1Cor 7,29) , exortando ao desapego das coisas passageiras deste mundo.

Deus continua a olhar para o seu povo, hoje, com compaixão, esperando o arrependimento dos pecados e a conversão sincera. A recusa da conversão e do perdão de Deus continua a gerar a violência, a injustiça e a morte. Ao contrário, os que reconhecem seus pecados, buscam o perdão e se dispõem à conversão, fazem a experiência da vida nova dos discípulos de Cristo feita de amor, de alegria e de paz.

Os discípulos são os primeiros a acolher a boa nova, fazendo a experiência da conversão e da fé, dispondo-se a seguir a Cristo. No relato do chamado aos primeiros discípulos, Marcos destaca a iniciativa de Jesus, isto é, o discipulado como dom ofertado, como sinal da gratuidade do amor de Deus. É Jesus quem se dirige aos primeiros discípulos e os chama para segui-lo. A resposta dos discípulos ao chamado exprime aquilo que jamais poderá faltar aos discípulos de todos os tempos: a pronta disponibilidade. Eles deixaram “imediatamente” as redes para seguir Jesus. Tal disponibilidade brota da fé, que vai se iluminando e amadurecendo ao longo do caminho. A resposta à conversão, assumindo a condição de discípulo, deve ser motivada pelo reconhecimento de que Deus é “ternura, compaixão, misericórdia e bondade sem limites”, conforme o Salmo 24, hoje meditado.

A missão de anunciar o Evangelho continua na Igreja. Somos chamados a fazer a experiência do discipulado em comunidade. A Igreja necessita de discípulos em comunhão, com o coração missionário, capaz de levar a todos, especialmente aos que mais sofrem, a boa nova da chegada do Reino.


ORAÇÃO

                             
Deus eterno e todo-poderoso, dirigi a nossa vida segundo o vosso amor, para que possamos, em nome do vosso Filho, frutificar em boas obras. Amém!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Carnaval, festa e Religião

Maria Clara Lucchetti Bingemer
Maria Clara Lucchetti Bingemer

 É parte constitutiva da identidade do ser humano o elemento da festa.  A festa interrompe o tempo cotidiano e introduz a diferença do ritual e da celebração, a fim de marcar uma ocasião especial em que é preciso deixar a rotina e voltar os olhos para o extraordinário que irrompe no tempo cronológico.

Todas as festas são eventos pelos quais se entra em ?outra? ordem de coisas, onde a fantasia, a imaginação e o desejo tomam lugar.  Festejar, portanto, é reafirmar nossa condição de ser humano, é sublinhar o fato de que não somos guiados apenas pelos instintos e pelo kronos que implacavelmente passa.  Festejar é demonstrar que temos algum senhorio sobre o tempo, transfigurando-o com o rito da comemoração e da celebração.

Em tempo de preparação e espera do carnaval, as reflexões acima se aplicariam a essa festa. Somos instigados a refletir sobre o sentido e o objetivo da música e da dança, dos espetáculos cheios de luzes e cofres, dos corpos desnudados e fantasiados em desfile, do samba na rua, de tudo isso que compõe os três dias que o povo espera com sofreguidão. Torna-se isto ainda mais importante no Brasil país onde o carnaval ocupa lugar central no imaginário do povo. Chamado com justeza país do Carnaval, o Brasil parece que entra em câmara lenta no Ano Novo para só recuperar seu ritmo e dinamismo depois dos festejos momescos.

Efetivamente, a maioria daqueles e daquelas que ?brincam?o Carnaval conhecem pouco ou nada do seu sentido mais profundo. A primeira dimensão dos folguedos carnavalescos tem a ver com um tempo religioso, cósmico e sagrado, onde a Transcendência mesma é que irrompe e transfigura o kronos.  O antropólogo Roberto da Matta nos chama a atenção em seu conhecido livro ?Carnavais, malandros e heróis? para o fato de que o carnaval fica suspenso entre o Advento (tempo ligado ao nascimento de Cristo que é celebrado no Natal) e os 40 dias da Quaresma, esse período de penitência e mortificação que visa a conversão (metanoia), o qual culmina com a  celebração dos mistérios da paixão,  morte e  ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

De fato, é como se todo o ritual carnavalesco, tão apaixonadamente preparado e vivido pelo povo e que tantos milhões rende aos bolsos dos donos das festas e desfiles só deixasse brilhar seu verdadeiro sentido quando o silêncio da Quarta feira de cinzas se faz, com seu ritual das cinzas aplicadas em cruz sobre a testa dos penitentes acompanhado das palavras: Convertei-vos e crede no Evangelho. A quarta feira onde tudo se acaba proclama sua morte, que se encontra, agora, assumida pela disciplina da Quaresma que substitui os folguedos e a descontração carnavalesca.

O carnaval, portanto, não tem rosto próprio, já que sua identidade lhe é dada por um outro tempo e uma outra ordem de coisas e de sentido. Figura ele ? ainda seguindo a Roberto da Matta - como um momento sem nome ou vez, escondido que está nas dobras de um calendário sagrado. Situado entre o nascimento e a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, a festa que é o reinado de Momo é efêmera como as alegrias e gozos imediatos.  Ela como que assume e resume simbolicamente os momentos crísticos do Natal e da Páscoa, e a numerologia cristã dos três dias de que fala o Novo Testamento. O carnaval em si mesmo, portanto, é um evento relativo.  Com todo o brilho e o ruído que atraem todos os focos de atenção, na verdade está simplesmente resumindo algo de fulgor bem maior e duradouro: os três dias de folia se referem e encontram significação no mistério cristão, já que a festa carnavalesca  nasce, agoniza e morre em três dias.

Sendo um evento sincrônico, repetitivo, prenhe de conteúdos cognitivos e afetivos, o Carnaval tornou-se e passou a ser um tempo social importante, fortemente ligado à experiência vital de uma sociedade, muito especialmente da sociedade brasileira.  .

Em uma leitura informada pela fé, porém, e mesmo aos olhos das Ciências Sociais, o Carnaval só pode ser compreendido no contexto da visão de mundo cristã. Carnaval e Quaresma ? no calendário cristão que rege o mundo após a queda do Império Romano - opõem-se no ciclo anual por seus conteúdos sociais e religiosos implicando comportamentos individuais e coletivos opostos. Porém na verdade, encontram seu ponto luminoso e iluminador na mesma pessoa de Jesus Cristo, Sol que nunca se apaga, Vivente por excelência, sobre quem a efemeridade das coisas e a corrupção da morte não têm poder.

*Maria Clara Lucchetti Bingemer é Teóloga e professora do Departamento de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, é autora de vários livros como 'Um rosto para Deus' (Editora Paulus) e 'O mistério e o mundo ? Paixão por Deus em tempo de descrença' (Editora Rocco).

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Correio MFC Brasil


Tanto no casamento como na família ou no trabalho, é comum que as pessoas vivam desencontros ou desentendimentos e, ainda, experimentem contradições dentro de si mesmas, ou com grupos da sociedade. A estas experiências costumamos dar o nome de conflitos.
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Desentendimentos & Conflitos
Deonira L. Viganó La Rosa
Terapeuta de Casal e de Família. Mestre em Psicologia.
O conflito é normal. É neutro. Faz parte de qualquer sistema vivo que cresce e se desenvolve. Ora, a família também é um sistema formado por pai-mãe, filhos, irmãos, avós, sobrinhos... inserido em outro sistema – a sociedade. Da interação entre os membros dentro da família e destes com os grupos fora da família resultam mudanças. Aqueles que mudam vão pressionar os que ainda não mudaram.
Estes vão reagir para conservar-se como estão. Então, surgem forças contrárias: ação-reação. Surgem os conflitos. E quanto mais diversidade, mais conflitos.

casal-sem-crise-não-destrua-a-paz-do-seu-relacionamento
Negação do conflito
Negar o conflito é viver fora da realidade, não encarar os fatos, idealizar a própria vida. É desejar a unanimidade e negar as diferenças. É não permitir a mudança, a evolução. É manter a ordem estabelecida por medo do desconhecido.
Negar o conflito pode indicar que uma das personalidades está se anulando frente à outra, ou uma é dominadora, não permitindo a discordância. É uma maneira de defender-se do questionamento dos outros.
É como ter a paz dos cemitérios, onde não há vida e crescimento, não existe o tempo.
Conflitos trazem vantagens ou desvantagens dependendo de como são administrados.
Como vantagens, podemos dizer que as oposições ajudam a construir a identidade; colaboram para que a pessoa perceba que não é dona da verdade, ajudam-na a reconhecer que o outro é diferente e não é feito de massa de modelar. Oportunizam examinar a própria imagem, assim como o outro a vê. Permitem revelar a face escondida, sobretudo permitem a evolução, o crescimento, a mudança. O outro não poderia revelar-se como é se não houvesse afrontamento e não poderíamos conhecê-lo.
Conflitos mal resolvidos podem levar à fadiga e provocar separação. A violência é um risco: uma das pessoas reage de maneira desmedida e usa todo tipo de palavra violenta e até a violência física. A recusa ao diálogo afasta as pessoas em conflito.
Casal-sem-Crise-Cumplicidade-no-Casamento
Resolver os conflitos
A capacidade de resolver os conflitos é uma capacidade social essencial para a construção da paz e para poder levar uma vida útil, caracterizada por relações sinceras e solidárias.
A prática da tolerância é fundamental. É preciso conhecer e usar alternativas de solução para enfrentar os conflitos. Libertar-se do paradigma ganhar-perder e fortalecer o paradigma cooperar. Controlar as próprias emoções.
Certos comportamentos aguçam ou amenizam os conflitos
Culpar o outro e lembrar seus erros do passado; comandar; ameaçar, assustar; desvalorizar, desconfirmar; guardar ressentimento; ter baixa autoestima; sentir-se ameaçado pelo diferente e inusitado, são comportamentos que aguçam conflitos.
Perguntar-se: o que nos afasta? O que nos aproxima?
Ao invés de gritar, falar o que se sente e ouvir as necessidades do outro; não tentar fazer o outro entender do jeito que você entende; falar sem culpar; não demonstrar desprezo; não fazer chantagem; não interromper o outro e nem discutir em lugares públicos, são posturas recomendadas para que o conflito se torne um aliado e não um acelerador de rompimentos.


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As várias causas e formas atuais de escravidão
Extraído da Mensagem do papa Francisco para a Jornada Mundial da Paz
Sendo o homem um ser relacional, destinado a realizar-se no contexto de relações interpessoais inspiradas pela justiça e a caridade, é fundamental para o seu desenvolvimento que sejam reconhecidas e respeitadas a sua dignidade, liberdade e autonomia.Infelizmente, o flagelo generalizado da exploração do homem pelo homem fere gravemente a vida de comunhão e a vocação a tecer relações interpessoais marcadas pelo respeito, a justiça e a caridade.
Tal fenômeno abominável, que leva a espezinhar os direitos fundamentais do outro e a aniquilar a sua liberdade e dignidade, assume múltiplas formas sobre as quais desejo deter-me, brevemente, para que, à luz da Palavra de Deus, possamos considerar todos os homens, «já não escravos, mas irmãos».
Hoje como ontem, na raiz da escravatura, está uma concepção da pessoa humana que admite a possibilidade de a tratar como um objeto. Quando o pecado corrompe o coração do homem e o afasta do seu Criador e dos seus semelhantes, estes deixam de ser sentidos como seres de igual dignidade, como irmãos e irmãs em humanidade, passando a ser vistos como objetos. Com a força, o engano, a coação física ou psicológica, a pessoa humana – criada à imagem e semelhança de Deus – é privada da liberdade, mercantilizada, reduzida a propriedade de alguém; é tratada como meio, e não como fim.

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Juntamente com esta causa ontológica – a rejeição da humanidade no outro –, há outras causas que concorrem para se explicar as formas atuais de escravatura. Entre elas, penso em primeiro lugar na pobreza, no subdesenvolvimento e na exclusão, especialmente quando os três se aliam com a falta de acesso à educação ou com uma realidade caracterizada por escassas, se não mesmo inexistentes, oportunidades de emprego.
Não raro, as vítimas de tráfico e servidão são pessoas que procuravam uma forma de sair da condição de pobreza extrema e, dando crédito a falsas promessas de trabalho, caíram nas mãos das redes criminosas que gerem o tráfico de seres humanos. Estas redes utilizam habilmente as tecnologias informáticas modernas para atrair jovens e adolescentes de todos os cantos do mundo.
Entre as causas da escravatura, deve ser incluída também a corrupção daqueles que, para enriquecer, estão dispostos a tudo. Na realidade, a servidão e o tráfico das pessoas humanas requerem uma cumplicidade que muitas vezes
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passa através da corrupção dos intermediários, de alguns membros das forças da polícia, de outros atores do Estado ou de variadas instituições, civis e militares.
«Isto acontece quando, no centro de um sistema económico, está o deus dinheiro, e não o homem, a pessoa humana.
Sim, no centro de cada sistema social ou económico, deve estar a pessoa, imagem de Deus, criada para que fosse o dominador do universo.
Quando a pessoa é deslocada e chega o deus dinheiro, dá-se esta inversão de valores».


As expressões da sexualidade são formas múltiplas de comunicação e linguagem do amor conjugal. Certos aspectos físicos e psicológicos dessas expressões da sexualidade não podem ser desprezados. São, mesmo, capazes de influir sobre o dinamismo das relações afetivas, que se vai desenvolvendo ao longo da vida conjugal.
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O diálogo da sexualidade
Helio Amorim*
Muitos casais não têm conseguido viver, em toda a sua amplitude, a ale­gria transbordante que poderiam en­contrar em suas relações sexuais. O amor que procuram exprimir não foi capaz de resolver algumas dificul­dades, muitas vezes nem identificadas com nitidez. Talvez nunca tenham chegado a se conhecer o suficiente para compreen­der e aceitar as peculiaridades psicoló­gicas do outro e as características de sua sexualidade.
Porque estas coisas são muito pes­soais e não obedecem a modelos, esse conhecimento profundo do outro é essencial. Às vezes, as diferenças de educação e as cargas hereditárias — com seus preconceitos e condicionamentos — criaram barreiras e bloqueios mais for­tes do que a boa vontade de vencê-los.
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Ou, quem sabe, mentalidades diferentes os levem a interpretar muitas vezes de modo errôneo, o sentido e o simbolismo dos gestos, das atitudes e dos comportamentos do outro, no ato sexual ou na sua preparação.
Por isso, a importância do diálogo do casal, para expressões mais perfei­tas da sexualidade. Um diálogo tranquilo e descontraí­do, aberto e sincero, levaria à supera­ção progressiva dessas dificuldades. Na medida em que ambos se revelassem mutuamente, com naturalidade, seus anseios ou frustrações, alegrias ou de­cepções. O silêncio conformista e o mutismo amargo são imperdoáveis, nessas situa­ções de desencontros sexuais.
Muitos que viveram essa alegria, em plenitude, numa fase gratificante de suas vidas, se perguntam hoje, perple­xos, o que lhes terá acontecido, tantas são as dificuldades que encontram para restabelecer a harmonia abalada ou perdida.
Talvez descubram que deixaram suas relações amorosas se desgastarem pela rotina, pelo cansaço dos gestos repetidos e pela falta de atenção. Ou por excesso de preocupações e pela dispersão de suas vidas entre tan­tos compromissos sociais e profissio­nais que não souberam dosar ou hierarquizar.
Mas, vamos reconhecer: as pressões que se exercem sobre o homem e a mulher são muito poderosas! Essas pressões podem condicionar o homem, por exemplo, a viver uma se­xualidade empobrecida, que reduz o ato sexual a uma fria e apressada rela­ção, comandada, precipitadamente, pelo simples mecanismo dos sentidos e desligada de qualquer conteúdo afetivo.
Não se sentindo envolvida por um clima densamente amoroso, a esposa se sente manipulada, reduzida a simples objeto sexual! E se mantém desinteressada e distante. Não é capaz de viver intensamente a sua sexualidade sem conexão com a sua vida afetiva.
Por isso, espera dele uma prolonga­da preparação psicológica e espiritual, marcada pela ternura e pelos gestos que exprimem afeto e dedicação. E cujo clímax natural será a expressão física sexual do amor conjugal.
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Estas e tantas outras possibilidades de desencontros, são fruto de pressões psicológicas, sociais e condicionamentos culturais que dificultam a construção de um autêntico encontro interpessoal. Suas causas devem ser identificadas e analisadas, com humildade, pelos que desejam, sinceramente, manter ou reconstruir o entusiasmo de viver e a alegria de estarem juntos.
Naturalmente, o diálogo é um grande instrumen­to nesta busca, talvez desgastado pela rotina da convivência, portanto imperioso resgatá-lo para recuperar esse entusiasmo do começo. Nunca é tarde para recomeços...