Flávio Giovanelli
Bispo de Santarém e presidente da Cáritas Brasileira
No Dia Internacional dos Direitos Humanos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Cáritas Brasileira lançaram a campanha mundial contra a fome, a pobreza e as desigualdades.
Com o tema "Uma família humana, pão e justiça para todas as pessoas", queremos sensibilizar e mobilizar a sociedade sobre essas realidades responsáveis por grandes mazelas no mundo e no Brasil.
A campanha faz parte de uma mobilização mundial da Caritas Internationalis, que articulou as 164 organizações membro para esse grande movimento em favor da vida, dos direitos humanos e da justiça social.
O papa Francisco, em sua primeira exortação apostólica, chamou a atenção ao dizer que "não se pode tolerar mais o fato de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isso é desigualdade social. Assim como o mandamento ‘não matar’ põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, também hoje devemos dizer não a uma economia da exclusão e da desigualdade social".
Esta economia mata. Dessa forma, o Santo Padre reafirma a opção da Igreja pelos empobrecidos e a urgente necessidade de pararmos e prestarmos atenção à realidade que está em nossa volta.
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) diz que, hoje, 842 milhões de pessoas sofrem com a fome no mundo, ou seja, um em cada oito seres humanos não tem acesso a uma alimentação adequada e de qualidade.
O Relatório da Riqueza Global, lançado este ano pelo banco suíço Credit Suisse, afirma que, se a riqueza produzida no mundo em 2013, que foi de US$ 241 trilhões, fosse distribuída em partes iguais entre as pessoas adultas do planeta, cada um iria receber US$ 56.600. Não podemos mais admitir esses dados: os 10% mais ricos controlam 86% da riqueza global, enquanto apenas 32 milhões de adultos, em um mundo com 7 bilhões de habitantes, possuem 41% da riqueza mundial. Além disso, dois terços dos adultos da humanidade - 3,2 bilhões - só conseguem dividir 3% da riqueza mundial.
O Brasil, como muito se tem divulgado, é a sexta economia mais rica do mundo, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas 57 milhões de pessoas vivem em estado de pobreza, ou seja, sobrevivem com meio salário mínimo.Mesmo com programas de distribuição de renda promovidos pelo governo federal, como o Bolsa Família, 20% dos mais ricos ainda detém 63,8% da renda nacional, enquanto os 20% mais pobres acessam apenas 2,5% de toda a riqueza que é produzida pelo país. O "Atlas de Exclusão Social: os ricos no Brasil" mostra que o país tem mais de 51 milhões de famílias, mas somente 5 mil apropriam-se de 45% de toda a riqueza e renda nacional.
É fato que o Brasil tirou milhões de brasileiros da extrema pobreza, mas em que condições? É aceitável definir a pobreza a partir de uma quantidade de dólares ou reais por dia? Trata-se da superação efetiva das necessidades básicas ou apenas evitar a morte pela fome? A produção agropecuária mundial pode garantir alimentação para 12 bilhões de seres humanos. Como somos pouco mais de 7 bilhões, há evidente desperdício e impedimento de que muitos tenham acesso aos alimentos. Vivemos em um país que teima em fazer reforma agrária ao inverso: aumenta a quantidade de terra sob controle de uma minoria e diminui a destinada aos pequenos proprietários, que são produtores de mais de 70% dos alimentos da nossa população.
A campanha mundial contra a fome e a pobreza, no Brasil, vai promover processo de escuta e diálogo com os grupos, comunidades e paróquias, com o intuito de identificar como os próprios empobrecidos enxergam a questão da pobreza e da miséria no país.
Não vamos retratar a fome, a pobreza e a miséria apenas como números que colocam o ser humano em uma condição de estatística. Vamos retratar a verdadeira face dessa realidade e quem nos contará essa história serão os próprios rostos da pobreza, da fome e da miséria no Brasil. A expectativa é que, em setembro de 2014, um documento sistematizado com o resultado de todos esses diálogos seja lançado para a sociedade brasileira.
Alimentados e animados pela frase do nosso grande mestre fundador, dom Helder Câmara, que nos ilumina dizendo que "o verdadeiro cristianismo rejeita a ideia de que uns nascem pobres e outros ricos", vamos alicerçados na esperança e na confiança do Santo Padre, o papa Francisco, seguindo a nossa missão.
CNBB: Projeto de Lei de Iniciativa Popular pela Reforma Política
Comissão de Acompanhamento da Reforma Política da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), presidida por Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães (*) convida a todos a acompanharem o movimento que se iniciou recentemente. Esta proposta de Reforma Política foi entregue ao presidente da Câmara Federal, Deputado Henrique Alves, pelas 44 entidades, na presença de dezenas de parlamentares apoiadores, dia 10/9/2013. Cerca de 130 parlamentares subscreveram a proposta.
Até hoje este PL não foi incluído em pauta de votação por não interessar à maioria dos parlamentares que pretendem reeleger-se.
Principais pontos do Projeto de Lei de Iniciativa Popular:
a. Proibição do financiamento de campanha por empresa. Instauração do financiamento democrático de campanha, constituído do financiamento público e de contribuição de pessoa física limitada a R$ 700,00. O total desta contribuição não poderá ultrapassar o limite de 40% dos recursos públicos recebidos pelo partido, destinados às eleições;
b. Adoção do sistema eleitoral do voto dado em listas pré-ordenadas, democraticamente formadas pelos partidos com a participação dos filiados e não só dos dirigentes, e submetidas a dois turnos de votação, constituindo o sistema denominado "voto transparente”, pelo qual o eleitor inicialmente vota no partido e posteriormente escolhe individualmente um dos nomes da lista;
c. Alternância de gênero nas listas mencionadas no item anterior;
d. Regulamentação dos instrumentos da Democracia Participativa, previstos no art. 14 da Constituição, de modo a permitir sua efetividade, reduzindo-se as exigências para a sua realização, ampliando-se o rol dos órgãos legitimados para iniciativa de sua convocação, aumentando-se a lista de matérias que podem deles ser objeto, assegurando-se financiamento público na sua realização e se estabelecendo regime especial de urgência na tramitação no Congresso;
e. Modificação da legislação para fortalecer os partidos, para democratizar suas instâncias decisórias especialmente na formação das listas pré-ordenadas, para impor programas partidários efetivos e vinculantes, para assegurar a fidelidade partidária, para considerar o mandato como pertencente ao partido e não ao mandatário;
f. Criação de instrumentos eficazes voltados aos segmentos sub representados da população, como os afrodescendentes e indígenas, com o objetivo de estimular sua maior participação nas instâncias políticas e partidárias;
g. Previsão de instrumentos eficazes para assegurar o amplo acesso aos meios de comunicação e impedir que propaganda eleitoral ilícita, direta ou indireta, interfira no equilíbrio do pleito, bem como garantias do pleno direito de resposta e acesso às redes sociais.
*Bispo Auxiliar de Belo Horizonte
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e Educação
Presidente da Comissão de Acompanhamento da Reforma Política.
“Vinho e vinagre na alegria do Evangelho”
Seguimos destacando comentários de Paulo Suess sobre a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, do Papa Francisco
O anúncio
“O querigma”: anúncio do amor de Deus
O anúncio do Evangelho que, por causa da temática do Sínodo precedente faz parte do subtítulo da Exortação, é um convite para partilhar uma alegria, indicar um horizonte e oferecer um banquete (cf. EG 14; 11). É necessário que esse anúncio "exprima o amor salvífico de Deus como prévio à obrigação moral e religiosa, que não imponha a verdade, mas faça apelo à liberdade, que seja pautado pela alegria, o estímulo, a vitalidade e uma integralidade harmoniosa que não reduza a pregação a poucas doutrinas” (EG 165).
Por não excluir nem forçar ninguém, o anúncio é universal e aberto ao mundo. Esse anúncio simplifica a doutrina e "concentra-se no essencial, no que é mais belo, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário” (EG 35).
O essencial do cristianismo é Jesus Cristo: "Não pode haver verdadeira evangelização sem o anúncio explícito de Jesus como Senhor” (EG 110). O anúncio do Evangelho "implica tomar muito a sério em cada pessoa o projeto que Deus tem para ela” (EG 160).
O caráter trinitário faz parte do "essencial” do querigma, como o anúncio do amor de Deus faz parte do primeiro anúncio: "Jesus Cristo ama-te, deu a sua vida para te salvar, e agora vive contigo todos os dias para te iluminar, fortalecer, libertar” (EG 164).
Para a centralidade do querigma é importante "que exprima o amor salvífico de Deus como prévio à obrigação moral e religiosa, que não imponha a verdade, mas faça apelo à liberdade, que seja pautado pela alegria, o estímulo, a vitalidade e uma integralidade harmoniosa que não reduza a pregação a poucas doutrinas, por vezes mais filosóficas que evangélicas.
Isto exige do evangelizador [...] proximidade, abertura ao diálogo, paciência, acolhimento cordial que não condena” (EG 165).
Finalmente, "o querigma possui um conteúdo inevitavelmente social: no próprio coração do Evangelho, aparece a vida comunitária e o compromisso com os outros. O conteúdo do primeiro anúncio tem uma repercussão moral imediata, cujo centro é a caridade” (EG 177; 179; cf. 258).
Francisco respira o espírito do Documento de Aparecida que ele ajudou a redigir: "A missão do anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo tem destinação universal. Seu mandato de caridade alcança todas as dimensões da existência, todas as pessoas, todos os ambientes da convivência e todos os povos. Nada do humano pode lhe parecer estranho” (DAp 380; EG 183).
"A verdadeira esperança cristã, que procura o Reino escatológico, gera sempre história” (EG 183) e a história gera conflitos. Por isso "o anúncio do Evangelho começa sempre com a saudação de paz; e a paz coroa e cimenta em cada momento as relações entre os discípulos. A paz é possível, porque o Senhor venceu o mundo e sua permanente conflitualidade, «pacificando pelo sangue da sua cruz» (Col 1, 20; EG 229).
Frases para pensar
- Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade.
Carlos Drummond de Andrade
- Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho.
Mahatma Gandhi
- Saber encontrar a alegria na alegria dos outros, é o segredo da felicidade.
Georges Bernanos
- A amizade desenvolve a felicidade e reduz o sofrimento, duplicando a nossa alegria e dividindo a nossa dor.
Joseph Addison
- Sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que temos.
William Shakespeare
- A alegria evita mil males e prolonga a vida.
William Shakespeare
- Aquele que nunca viu a tristeza, nunca reconhecerá a alegria.
Khalil Gibran
- A alegria de fazer o bem é a única felicidade verdadeira.
Leon Tolstoi
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