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sexta-feira, 1 de julho de 2011

Deus não é um objeto de experimentação humana, diz o Papa

VATICANO, 30 Jun. 11 / 02:28 pm (ACI)
Ao presidir esta manhã a entrega do Prêmio Ratzinger à investigação teológica, o Papa Bento XVI explicou que “Deus não é um objeto de experimentação humana”.
Em seu discurso aos ganhadores do prêmio: o professor Olegario González de Cardedal, o professor Manlio Simonetti e o sacerdote Maximilian Heim, o Santo Padre explicou que existe um limite ao uso da razão: “Deus não é um objeto da experimentação humana. Ele é Sujeito e se manifesta somente por meio do relacionamento pessoal, fazendo parte da essência de cada ser humano”.
Bento XVI fez esta afirmação ao responder à pergunta sobre o quê é verdadeiramente a teologia. “A teologia –disse– é ciência da fé, diz-nos a tradição. Mas aqui surge, imediatamente, a pergunta: Isso é realmente possível? Ou não é esta uma contradição? Ciência por acaso não é o contrário de fé? Não faz com que a fé deixe de ser fé quando vira ciência? E não faz com que a ciência deixe de ser ciência quando regida ou mesmo subordinada a fé?”
“Estas questões, que já para a teologia medieval representavam um sério problema, com o moderno conceito de ciência se tornaram ainda mais prementes, à primeira vista inclusive sem solução. Compreende-se assim por que, na era moderna, a teologia em vastos âmbitos se retirou primariamente no âmbito da história, a fim de demonstrar aqui sua séria característica científica”.
Bento XVI disse seguidamente que é necessário então “reconhecer, com gratidão, que com isto foram realizadas obras grandiosas, e a mensagem cristã recebeu nova luz, capaz de fazer visível sua íntima riqueza. Entretanto, se a teologia se retirar totalmente ao passado, deixa hoje a fé na escuridão”.
“Depois, em uma segunda fase, concentraram-se na praxis, para mostrar que a teologia, em relação com a psicologia e a sociologia, é uma ciência útil que dá indicações concretas para a vida. Também isto é importante, mas se o fundamento da teologia, a fé, não chega a ser ao mesmo tempo objeto do pensamento, se a praxis é referida apenas a si própria, ou vive unicamente dos empréstimos das ciências humanas, então a praxis se torna vazia e privada de fundamento”.
Conforme assinala a nota da Rádio Vaticano, o Papa indicou que “portanto, estes caminhos não são suficientes. Por mais que sejam úteis e importantes, convertem-se em subterfúgios, e permanece sem resposta a verdadeira pergunta. Que ressoa: é aquilo verdade no que acreditam ou não? Na teologia está em jogo a questão a respeito da verdade; ela é seu fundamento último e essencial”.
Depois de explicar que ao ser Cristo mesmo a Verdade à qual é possível acessar através da razão humana, o Papa indicou que “a razão experimental se apresenta hoje amplamente como a única forma de racionalidade declarada científica. O que não pode ser cientificamente verificado ou falsificado cai fora do âmbito científico”.
“Com esta formulação foram realizadas obras grandiosas; que ela seja justa e necessária no âmbito do conhecimento da natureza e de suas leis ninguém desejará pô-lo seriamente em dúvida. Entretanto, existe um limite ao semelhante uso da razão: Deus não é um objeto da experimentação humana. Ele é Sujeito e se manifesta somente por meio do relacionamento pessoal, fazendo parte da essência de cada ser humano”.
O Santo Padre referiu logo um segundo uso da razão: “o amor quer conhecer melhor àquele que ama. O amor, o amor verdadeiro, não faz cegos, mas videntes. Disto forma parte precisamente a sede de conhecimento, de um verdadeiro conhecimento do outro”.
“Por isso, os Padres da Igreja encontraram os precursores e os pioneiros do cristianismo –fora do mundo da revelação de Israel– não no âmbito da religião consuetudinária, mas nos homens em busca de Deus, nos “filósofos”: em pessoas que estavam sedentas de verdade e estavam, portanto, em caminho para Deus”.
“Quando não existe este uso da razão –precisou o Papa– então as grandes questões da humanidade caem fora do âmbito da razão e som deixadas à irracionalidade. Por isso uma teologia autêntica é tão importante. A fé reta orienta a razão para abrir-se ao divino, a fim de que ela, guiada pelo amor pela verdade, possa conhecer Deus mais de perto”.
“A iniciativa para este caminho está em Deus, que pôs no coração do homem a busca de seu Rosto. Portanto, forma parte da teologia, por um lado, a humildade que se deixa “tocar” por Deus e, por outro, a disciplina que se liga à ordem da razão, preserva o amor da cegueira e ajuda a desenvolver sua força vidente”.
Finalmente o Papa afirma ser “consciente de que com tudo isto não foi dada uma resposta à questão sobre a possibilidade e a tarefa da reta teologia, mas apenas foi posta em luz a grandeza do desafio ínsito na natureza da teologia. Entretanto, precisamente o homem tem necessidade deste desafio, porque ela nos impulsiona a abrir nossa razão nos interrogando sobre a verdade mesma, sobre o rosto de Deus”.

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