O SOFRIMENTO
O problema do sofrimento sempre move profundamente o ser humano especialmente a dor de pessoas dignas e inocentes, ai então abala e desconcerta ainda mais.
Li recentemente um livro intitulado: “Quando coisas ruins acontecem a pessoas boas”. O autor é um rabino, o Dr. Harold Kusnher, que passou pelo grande sofrimento de, ao lado da esposa, após muitos anos de espera, assistir ao nascimento de seu filhinho portador de uma doença rara, a progéria, ou seja, doença caracterizada por uma velhice precoce.
A criança tem a pele enrugada, face envelhecida, um quadro profundamente entristecedor. A vida nos mostra um desfilar imenso de casos semelhantes relacionados com outras doenças, como leucemia, câncer no cérebro, paralisia cerebral, em crianças que são muitas vezes filhos únicos. O fato é que em todos esses casos de sofrimento motivado por vários fatos os pais, no desespero, sempre perguntam: “Por que Deus fez isso comigo?”. O rabino, autor do livro, também fez, depois de muita reflexão, essa mesma pergunta a própria esposa. E ele mesmo responde: “Estou convencido de que Deus não quis o meu sofrimento nem da minha esposa. Prefiro dizer que continuo acreditando na justiça e na grande onipotência de Deus”. E continua. “Não é Deus que causa a tragédia, a doença e o sofrimento, acredito que existe uma “aleatoridade” no Universo e a natureza moralmente cega. Um terremoto não distingue entre pessoas boas e ruins. Nem o câncer. Nem o derrame cerebral. Nem a progéria. Não são os atos de Deus e sim acaso da natureza”.
Para isentar Deus da responsabilidade do mal, o autor defende a tese de que o homem ao habitar esta terra tem a liberdade de escolher entre o bem e o mal, o trabalho que quer exercer, o local onde deve morar, e todos esses fatos estão relacionados sempre com o acaso, que vai moldando ou induzindo atitudes e ações que podem causar bem estar ou danos ao organismo.
Acontece que Deus, tendo dotado as criaturas de natureza e leis próprias, permite que elas ajam de acordo com a sua índole característica: os irracionais agem de maneira instintiva, os racionais como o homem, de maneira livre. Deus não quis fazer um mundo de“marionetes”, policiados previamente, de sorte que tudo ocorresse segundo uma “harmonia” preestabelecida. Ele preferiu deixar a espontaneidade de ação às criaturas.
O sofrimento, segundo os teólogos, nos aproxima de Deus e nos dá coragem para enfrentar os obstáculos. Através da oração, de um diálogo afetivo com o Cristo, as pessoas em sofrimento descobrem que têm mais força e mais coragem do que jamais pensaram em ter.
São inúmeros os santos que conquistaram a amizade do Cristo, não porque foram predestinados, mas pelo esforço e a coragem sempre presente em suas vidas de vencer os obstáculos e o preconceito da época.
Deus é mistério. Santo Thomas de Aquino estudou exaustivamente as causas do sofrimento humano e não encontro explicações suficientes. Jó foi o primeiro a ser testado por Deus diante do sofrimento. A onipotência de Deus não obedece a planos de projeções humanas, mas a planos de sabedorias e amor que ultrapassam as possibilidades meramente humanas.
Nesta passagem pela terra, cheia de alegrias e tristezas, o homem encontra mais obstáculos do que prazer. Se ele não tiver uma força interior, um grau de espiritualidade suficiente que possa abrir caminhos e ajudá-lo a enfrentar as dificuldades, ele baqueia. Quando o sofrimento bater-lhe à porta solicite ajuda. Foi o próprio Cristo que se prontificou a nos atender: “Pedi e receberei”. “Estou com você todos os dias. Nunca desespere”.
DR. MILTON HÊNIO NETTO DE GOUVEIA,
Nascido em 06 de maio de 1937, na cidade de Maceió,
no Parque Gonçalves Lêdo, bairro do Farol, onde
até hoje mantém seu consultório pediátrico.
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