Everton Barbosa
De uma hora para outra o mundo inteiro ganhou milhões de vaticanistas. Milhões de pessoas se tornaram especialistas em assuntos da Igreja Católica. Esta foi a impressão que tive após o anúncio da renúncia do Papa Bento XVI, confirmada até agora, após a posse do Papa Francisco.
Para uma mídia que, nos últimos tempos, muitas vezes tem dito que a Igreja está em decadência, velha, congelada e que não dialoga com o mundo de hoje, podemos considerar que a cobertura da transição papal surpreendeu.
Mas o que houve com essa mesma mídia? Por que mais de cinco mil jornalistas foram para Roma, se a Igreja não tem nada a dizer para esta modernidade?
Os fatos já nos apontam respostas. A importância histórica da Igreja é incalculável. Não há como negar. Talvez o que tenha ocorrido é que depois de João Paulo II a mídia não se esforçou para compreender a mensagem intelectual de Bento XVI, cuja profundidade foi sempre elogiada pela crítica que, de fato, é especialista em Igreja. Quem o criticava em demasia sempre fazia de maneira superficial, pois não possuía elementos profundos para um estudo mais apurado do contexto.
No entanto, há que ressalvar, que Bento XVI não foi formado para se comunicar com um público de massa, o que dificultou a comunicação com a mídia.
Nos últimos anos, com a divulgação dos casos escandalosos envolvendo o clero católico, o noticiário religioso se limitou a noticiar os pecados da Igreja. O trabalho jornalístico, quando sério, ajudou a Igreja a buscar a conversão. Quando houve sensacionalismo, o efeito foi injusto.
Com a transição de Bento XVI para Francisco fica evidente que a mídia quer ouvir a Igreja, pois o mundo precisa de uma mensagem transcendente em meio ao caos que vivemos. O povo pede informações sobre religiosidade. Por outro lado a Igreja quer e necessita voltar a falar com o povo e com a mídia.
Para que essa evolução aconteça será necessário um esforço tanto dos profissionais da imprensa, que precisam conhecer melhor o que é e o que representa a comunidade cristã, como do próprio povo de Deus, que já se abre para um diálogo maior com a comunicação global.
E neste sentido o Papa Francisco consegue unir a grandiosidade histórica do catolicismo com a simplicidade de um comunicador que está sendo compreendido pelas bases.
Depois do fracasso das especulações que apontavam favoritos para o papado, a mídia parece que compreendeu que fazer cobertura da Igreja não é a mesma coisa que cobrir uma corrida eleitoral para a presidência de qualquer país.
E o Papa Francisco não zombou dos jornalistas por causa deste fracasso de muitos vaticanistas. Pelo contrário. Ele olhou para esses profissionais como seres que também erram, que são falhos, limitados, e, acima de tudo, que têm sentimentos.
Francisco estabelece uma nova lógica de diálogo e rompe o ciclo de críticas invertidas.
Ele compreende que a crítica pela crítica de parte da Igreja contra a mídia ou da mídia contra a Igreja não é saudável para nenhum lado.
Igreja e mídia têm alguns objetivos semelhantes. Se houver respeito e coerência das partes, estes dois grandes atores mundiais poderão contribuir com muito mais profundidade para o estabelecimento de uma civilização mais fraterna. Como diz o Papa Francisco, Igreja e mídia devem sempre transmitir a “verdade, a bondade e a beleza”.
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