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Todos sabemos o quanto a linguagem do silêncio é capaz de atingir nosso íntimo. Sabemos também que os silêncios podem ser fontes de mal entendidos. Fazer a triagem entre os bons e maus silêncios é caminho andado para resolver conflitos.
As vozes do silêncio
Deonira L.Viganó La Rosa
Terapeuta de Casal e de Família. Mestre em Psicologia
· O que não ousamos dizer
“Seja mais terno(a)”, “Faça uma dieta de emagrecimento”, “Não me deixe”, contam, segundo recente pesquisa feita na França, entre as frases que, por pudor, não ousamos dizer ao companheiro ou companheira.
Abster-se, por amor, de dizer ao outro que engordou, que é muito emotivo ou que não é tão sutil a nossos gostos, é proteger seu narcisismo. Lamentável mesmo é não ousar dizer-lhe mais frequentemente “Eu tenho confiança em ti” ou “Te peço perdão”. Ser valorizado é uma necessidade relacional fundamental. Se meu companheiro se sobrepõe a seu pudor para confiar-me seus complexos ou me comunicar seu amor, eu não tenho o direito de utilizar seus propósitos contra ele, fazendo pouco caso ou julgando-o.
Se você deseja acabar com a confiança mútua, jogue a público as confidências íntimas que lhe fez seu marido, ou sua mulher.
· O que escondemos
À pergunta: “Há coisas que você esconde de seu companheiro?”, 85% das pessoas interrogadas responderam “não”. Quantas mentem? Difícil dizer. Aquelas que responderam “sim” dizem calar suas dificuldades profissionais (23%), suas aventuras extraconjugais (20%) ou ainda um grave problema de saúde (19%).
O psicólogo social Jacques Salomé distingue os “não-ditos” de “não dizer”. No primeiro caso, não escolho, os “não ditos” se impõem a mim, porque são portadores de um perigo ou de uma ameaça real ou fantasiada. Já o “não dizer” é uma escolha minha, eu me posiciono, eu escolho não partilhar as informações que me pertencem, mas que importam muito aos dois. São silêncios que dissimulam as lesões da relação e levam o diálogo à asfixia.
Por medo de trair, aquele que carrega o segredo evita cada vez mais as conversas, e o silêncio se instaura. Aquele que não sabe a razão do silêncio imagina o pior.
· O que dizemos, sem dizer
Quando o casal pressente que não terá êxito no diálogo, a comunicação não-verbal torna-se intensa; cada qual se torna uma torre de controle frente aos menores gestos do outro: suspiros, olhares duros, gestos de violência contida e portas que batem dizem mais do que acusações.
A expressão imediata e passageira do rancor (o mais calma e respeitosamente possível) pode promover um alívio. Entretanto, quanto mais esperamos, mais ele se torna explosivo. Se valesse um conselho: “Nunca durma sobre um ressentimento”.
· O que podemos não dizer
Por definição, os casais que, o tempo todo, exigem um do outro uma completa prestação de contas, não têm mútua confiança. Preservar seu jardim secreto – seus pensamentos que não são confiados senão a um terapeuta ou a um confidente – é um direito indiscutível. Mas é por vezes difícil reivindicar isto sem que a pessoa amada se sinta rejeitada. Podemos então dizer-lhe que aquilo que não exprimimos não é contra ela, mas pertence a nosso jardim secreto. A seu turno, evitar intrometer-se. E não cair na tentação de enquadrar neste quesito o que é importante comunicar.
O que é entendido sem palavras
É o sentimento de plenitude depois do amor, de felicidade ao contemplar uma paisagem a dois, de bem estar por não discutir mais ... Quando a relação é justa e equilibrada os parceiros não têm grandes coisas a agregar. Nesta hora os silêncios mostram o quanto os dois estão felizes, e dizem mais que palavras. E se a este silêncio for agregado o toque, a comunicação será intensa.
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Em novembro dedicamos um dia para nossos finados, o que enseja uma reflexão sobre a matéria. Pensar a vida é também pensar a morte, esta faz parte do ciclo daquela, ou é o seu término. Francisco de Assis chamou-a de irmã morte, com familiaridade e de maneira afetuosa, sem horror e ressentimento, nessa irmanação com o cosmo, enviando-nos a mensagem de que quando a vida vale a pena, morrer também. Consciência tranquila, missão cumprida.
O horizonte da vida e da morte
Jorge La Rosa
Professor universitário, doutor em Psicologia.
E-mail: larosa1134@gmail.com
Na atitude de Francisco podemos distinguir alguns vislumbres: aceitação da finitude. Não somos Deus nem estamos em seu lugar, embora seja a grande e perene tentação, desde o Gênesis até o final dos tempos.
Queremos ser Deus quando o retiramos de nosso coração e aí erigimos altar para cultuarmos o eu, num antropomorfismo exacerbado e cego, já que o ser humano não é o autor de si mesmo, é criatura, nem constitui o seu objetivo precípuo: “Se vivemos, é para Deus que vivemos; se morremos, é para Deus que morremos; quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor” (São Paulo aos Romanos 14, 7-9).
Entender e ser coerente com o enunciado paulino significa aceitação humilde e grandiosa da condição humana que encontra no Criador o significado último do peregrinar terrestre. Isto é salvação, o encontro do sentido originário da existência, o que lhe dá suporte, e, ao mesmo tempo, a plenifica porque ontologicamente somos destinados ao Absoluto, e somente Ele sacia a fome de felicidade. Não há outra fonte, nem substituto, nem paliativo. Ou Deus ou a danação; neste sentido Sartre tem razão, no horizonte sem Deus “O homem é uma paixão inútil”, e “A vida não tem sentido”, ele vive de teimoso, como Sísifo, num trabalho insano que jamais conclui sua tarefa nem frui o resultado de seus esforços: ele é estruturalmente frustrado e sua vida não tem arrumação; resta-lhe danação. Sartre é coerente na sua filosofia sem Deus.
Os que vivem no horizonte de Deus e lhe abrem o coração, experimentam um profundo sentido em tudo o que fazem e dizem, e ainda que não estejam infensos ao sofrimento, cada um tem sua quota, saboreiam o gosto do viver; em uma jornada que se sabe finita, mas que culmina no encontro com o Infinito.
Outras formas
Queremos ser Deus quando destruímos a vida humana pelas guerras, como se dela senhor fôssemos, ou a destruímos pelo modo perverso como se organiza a sociedade e a economia que lhe dá sustentação: novecentos milhões de pessoas passam fome no mundo e dormimos tranquilos, como se não nos dissesse respeito. Não somos o Senhor da vida, mas os guardiões que precisam velar pela sua conservação e desenvolvimento, onde quer que se encontre. Se não nos sentimos responsáveis pela fome no mundo, alguma conversão precisa ocorrer em nosso ser, humano e cristão. Se formos profundamente humanos, seremos radicalmente cristãos.
Aceitação da finitude é aceitar que a vida tem um começo e tem um fim. Não temos existência imortal, e por mais que prolonguemos a vida, o que é bom, ela terá o seu termo. Não podemos prorrogar indefinidamente a realização de certas tarefas e a busca de certos objetivos, como nossa permanente conversão e o crescimento no amor a Deus e ao próximo, e o que isso implica. Aceitar a finitude significa, ainda, que precisamos nos organizar em termos de prioridades, o mais importante deve vir primeiro e ocupar o espaço mais nobre do viver, e ser também a busca constante do existir.
Ser é mais importante do que ter, mas não se pode ser sem se ter o necessário e suficiente para uma vida satisfatória e digna. Sociedade com uma melhor distribuição dos bens será meta constante do cristão que não restringe sua fé a práticas piedosas, mas a insere no cotidiano, nas relações com outras pessoas, instituições e Estado. O Senhor já advertira: “Daí a Deus o que é de Deus e a César o que é de César”. Sociedade calcada na busca desordenada do ter propicia o acúmulo de bens nas mãos de minoria, não é feliz nem cristã, porque contraria o projeto do Criador que destinou os bens da terra a todos os seres humanos e não apenas a um grupo (Paulo VI, Populorum Progressio, nº 22). Sempre que o ser humano contraria o projeto divino, constrói sociedade com patologias variadas e infelicidades multiplicadas. Lição a aprender.
Prioridades
A questão das prioridades é fundamental. Não podemos gastar muito tempo com o secundário e acidental e descuidarmo-nos do essencial; não podemos nos perder nos meios e esquecer os fins; o dinheiro é meio para viver, não é o fim da existência; jamais se ouviu dizer que o acumulado em uma vida acompanhe o esquife do falecido na sua viagem para a eternidade, como passaporte para o céu; a busca do dinheiro não pode comprometer o convívio educativo com os filhos e a família, o convívio fraternal com os amigos, a visita e o conforto que precisamos levar aos que sofrem e aos desamparados. Não podemos gastar todo o tempo disponível para ganhar dinheiro; algo estaria errado; muita gente ao derredor e nós mesmos seríamos infelizes.
A distinção entre meios e fins é uma longa meditação que pode nos orientar no decorrer da existência e que serve também para darmos a ela uma direção e sentido. O pobrezinho de Assis renunciou aos bens da família e se desprendeu de muita coisa para ter o coração livre e aberto para o amor; que propiciou uma guinada na História e ajudou a dar sustentação a uma Igreja combalida e necessitada de santo.
Os meios não são os fins. A morte não é fim; é meio para encontrarmos o Senhor da Vida e saciar a sede de felicidade que albergamos no fundo do ser.
EDITORIAL
O diretor de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, Oslain Santana, terceiro na hierarquia da instituição e tradicionalmente avesso a declarações públicas, afirma que pelo menos metade dos casos de corrupção tem relação com financiamento de campanhas eleitorais.
Ele coordenou todas as grandes operações de combate contra fraudes em licitações, superfaturamento de contratos e contratação de ONGs de fachada desde 2011.
“Cinquenta por cento das operações da Polícia Federal contra corrupção têm como pano de fundo financiamento de campanha eleitoral. Quando você investiga um caso de corrupção, desvio de dinheiro público, vai ver lá na frente que tinha um viés para financiar campanha política. Então, se resolvessem fazer uma reforma política, diminuiria muito o crime de corrupção. Isso é fato”, revela.
Normalmente, numa investigação, é um prefeito desviando dinheiro, parte dodinheiro vai para seus interesses pessoais e parte do montante, para financiar a campanha. “Essa é a realidade hoje. Um prefeito, um deputado, um governador e por aí vai.
Não dá para precisar em números, mas é fato. É a sensação que temos nas várias investigações em que trabalhamos. E são todos os partidos. Não é privilégio desse ou daquele. Todos. As várias investigações da PF e do Ministério Público comprovam o que a gente está comentando agora.”
Santana afirma que “tem que haver uma reforma política. O modelo atual de financiamento de campanha, se você não mudar, vai acontecendo esse tipo de crime: vão continuar desviando dinheiro público para esse financiamento.”
A consequência perversa dessa prática é óbvia. O parlamentar eleito fica em débito com os financiadores.
Não pode negar-se a trabalhar em favor dos interesses particulares dessas empresas, grupos econômicos, até de contraventores e donos de empresas de ônibus durante o seu mandato, mesmo porque quatro anos depois vai precisar de novo de doações para reeleger-se. Esse é o nó a desatar em todos os níveis da representação política, federal, estadual e municipal.
Vaticano contra privilégios
Não pode negar-se a trabalhar em favor dos interesses particulares dessas empresas, grupos econômicos, até de contraventores e donos de empresas de ônibus durante o seu mandato, mesmo porque quatro anos depois vai precisar de novo de doações para reeleger-se. Esse é o nó a desatar em todos os níveis da representação política, federal, estadual e municipal.
Vaticano contra privilégios
Papa ordena saída de ‘bispo de luxo’ de diocese alemã
Foto aérea mostra a Catedral de Limburgo (à direita) e a residência episcopal (à esquerda)
O Papa Francisco ordenou que o bispo alemão Franz-Peter Tebartz-van Elst, conhecido como “bispo de luxo” por gastar cerca de 35 milhões de euros (R$ 103 milhões) em uma residência, deixe a diocese em que trabalha por um período indeterminado, informou o Vaticano nesta quarta-feira.
Em um comunicado, a Santa Sé disse que Tebartz-van Elst “não podia mais exercer seu ministério episcopal” e anunciou que o recém- nomeado vigário-geral de Limberg, Monsenhor Wolfgang Roesch iria administrar a diocese durante o afastamento do bispo.
A decisão, que representa quase uma demissão, foi tomada contra o bispo de Limburgo dois dias após um encontro dele com o Papa para discutir o escândalo na Igreja da Alemanha, num momento em que o Francisco busca ressaltar a importância da humildade e de servir aos pobres.
A medida foi considerada incomum por observadores, por deixar Elst numa espécie de limbo, um meio caminho entre a suspensão e a expulsão. Aparentemente é uma forma de o Vaticano e líderes da Igreja Católica na Alemanha ganharem tempo para lidar com a situação. Elst tem 53 anos e somente poderia se aposentar daqui a 22 anos.
Uma alternativa seria sua transferência e chegou a ser comentado na Alemanha que ele poderia ir para a África. O caso revoltou os católicos alemães, num país em que Lutero promoveu uma reforma cinco séculos atrás após criticar abusos da Igreja, e levou o bispo a enfrentar uma forte pressão para deixar o cargo.
Os gastos com a construção da residência custaram um valor bem acima do orçamento inicial de 2,5 milhões de euros (R$ 7,4 milhões) previstos inicialmente. A quantia cresceu em boa parte por conta dos extras, como uma banheira de 15 mil euros (R$44,4 mil); uma mesa de reuniões de 25 mil euros (R$ 74 mil); e uma capela particular de 2,9 milhões de euros (R$ 8,5 milhões).
(Wolfgang Rattay/ REUTERS Publicado em 23/10/13)
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