Em muitas situações nós padres nos deparamos com a seguinte pergunta: “Padre, é obrigado ir à missa aos domingos”?
Os cristãos católicos aprendem no catecismo que a missa do domingo é obrigatória. Os pais obrigam seus filhos a irem à missa, os catequistas pedem aos seus catequizados à comprovação que participaram da Missa aos domingos. No entanto, nada mais afastado do espírito da Igreja do que considerá-la uma “obrigação”. A Santa missa não pode tornar-se uma obrigação, ou seja, vamos lá, cumprimos nossa obrigação e depois estamos livres. Quem ama a Deus, não vai por obrigação.
A Santa missa não deve ser olhada como um preceito, uma obrigação, mas como uma graça, que nos insere dentro da comunidade de irmãos, nos faz viver o mistério de Cristo. Nossa presença na Eucaristia dominical enche a semana de sentido, revigora nossa fé, entusiasma nosso viver, plenifica nosso coração de felicidade.
É preciso entender a importância da participação dos cristãos na celebração eucarística dominical. Torna-se cada vez mais necessário notar o valor da celebração eucarística em si para melhor entender por que a Igreja tornou obrigatória a participação do cristão católico na Santa Missa aos domingos.
Conforme o Catecismo da Igreja Católica (nº 2178), a participação dos cristãos na celebração eucarística remonta aos inícios da era apostólica. Nos Atos dos Apóstolos 2,42-46 e conforme (1Cor 11,17), foi registrado a prática da assembléia cristã de reunir-se no dia Senhor (Dies Domini) para a celebração do Mistério Pascal.
“Como o dia da ressurreição de Jesus (após o sábado) deu a idéia de nova criação, para os cristãos o domingo tornou-se o primeiro de todos os dias, a primeira de todas as festas, o dia do Senhor por excelência. Consequentemente, a celebração eucarística como melhor forma de reunir a comunidade para louvar e agradecer, só poderia acontecer como principal demonstração de fé no seguimento do Senhor, neste dia, recordando e celebrando o seu memorial. Sem dúvida nenhuma, é desta tradição que a Igreja Católica colhe o sentido da “obrigatoriedade” de todo cristão participar da santa missa aos domingos”. (CIC nº 2175-2176).
Diz o Santo Padre o Papa João Paulo II em sua carta apostólica “Dies Domini”, sobre a santificação do domingo: “O Dia do Senhor – como foi definido o domingo, desde os tempos apostólicos – mereceu sempre, na história da Igreja, uma consideração privilegiada devido à sua estreita conexão com o próprio núcleo do mistério cristão. O domingo, com efeito, recorda, no ritmo semanal do tempo, o dia da ressurreição de Cristo. É a Páscoa da semana, na qual se celebra a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, o cumprimento nele da primeira criação e o início da “nova criação” (cf. 2Cor 5,17). É o dia da evocação adorante e grata do primeiro dia do mundo e, ao mesmo tempo, da prefiguração vivida na esperança, do “ultimo dia”, quando Cristo vier na glória (cf. At 1,11: 1Ts 4,13-17) e renovar todas as coisas (cf. Ap 21,5).
Quando Jesus diz ser “o pão vivo descido do céu para dar vida ao mundo” (cf Jo 6,47-51) certamente que se referia ao seu Corpo que nos daria como alimento, a vida Divina que podia nos oferecer.
Ainda hoje muitos se afastam da Santa Missa repetindo a multidão que se afastou de Jesus quando fez o discurso do pão vivo descido do céu (Leia atentamente todo o capítulo 6 do Evangelho de São João). Ainda, lembremos o ensinamento de Paulo aos Hebreus, “Não deixemos as nossas assembleias, como alguns costumam fazer. Procuremos animar-nos sempre mais” (Hb 10, 25).
O domingo também é dia de descanso, de estar com a família. Muitos praticam esportes, realizam passeios, promovem festas familiares, visitam amigos, são atividades boas, sadias, mas esquecem a oração, o rezar com a comunidade, o participar do banquete Eucarístico. Sempre foi possível fazer ambas as coisas. Quantos dizem: “eu rezo em casa”... pergunto: “e a vida com a comunidade?”; “e a Eucaristia”?
O domingo, o dia do Senhor, da Eucaristia, é um momento rico de sentidos. É no domingo que a comunidade se reúne para celebrar a ressurreição de Jesus, participar da mesa Eucarística. A Eucaristia se faz alimento, sustento, força, ânimo para os nossos trabalhos de toda a semana. Quem não necessita deste alimento? Quem não precisa da força vinda do alto? Da graça de Deus?
Para nós cristãos católicos a celebração do domingo tornou-se o primeiro de todos os dias, o dia do Senhor, a primeira de todas as celebrações. Por isso, aos domingos nosso compromisso com o Senhor deixa de ser uma obrigação e se torna uma expressão da nossa fé viva na presença real de Jesus na Eucaristia. O preceito continua, mas devemos considerá-lo um ato de amor e carinho de Deus e da Igreja por cada um de nós. “No dia do Senhor, o Espírito tomou conta de mim” (Ap 1, 10).
Pe. Mário Marcelo, scj
Americanópolis - São Paulo/SP
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